domingo, novembro 21, 2004

Depressões 17/11/2004

Para verificar o estado crítico em que me encontrava na semana passada, e, como em nada me ajudaram os "amigos", deixo um episódio pelo qual passei, e, que muito contribuiu para a minha "escapadela" de quatro dias no Porto para descançar do ambiente pesado que se vive em Lisboa...

Impressionante! Hoje foi o segundo round das rajadas. Hoje fui à faculdade só para ter o meu imprescindível Aikidô, para a meditação do cerimonial, para me fundir com o movimento ritmado e acompanhado que se tem quando se pratica Aikidô. A fluência de movimentos síncronos, belos, simples junto de colegas aikidocas, o som dos tecidos dos nossos kimonos nos tatamis, da respiração uns dos outros, das pancadas secas com as mãos ou os pés nos tatamis, todo o misticismo envolvido e as expressões japonesas em voz alta do nosso professor criam um ambiente que me é familiar e já fundamental para o meu bem-estar. Saio das aulas com o espírito mais ‘lavado’ da poluição do dia-a-dia. E hoje o dia esteve mais uma vez cheio de smog

Quando cheguei ao Alkimia estava uma mesa inteira cheia de pessoal gay da minha faculdade e até um rapaz de outra. Sinceramente só queria mesmo lanchar e falar um pouco com o N. e não estava com paciência para aturar ninguém, em especial o A. que está a atravessar a fase da estupidez crónica e da melguice pegajosa. Mas não tive hipótese; tive que levar com mais uma ensaboadela dos constantes «[risos parvos]… que é que ele tem?! [novos risos parvos com sorriso nos lábios cínico]» ou ainda dos «[voz abrutalhada] Que cara é essa? Pareces um zombie.». Não há paciência que ature esta gente! Em vez de serem compreensivos e tolerantes, em vez de terem o dobro da paciência comigo, estando somente presentes, sorrindo com sinceridade, exprimindo a sua amizade e afecto por mim – que é aquilo que mais preciso – desatam com “brincadeiras” que são completamente incompatíveis com o meu estado de espírito, a apreciações críticas que no mínimo me afectam, que as sinto como directas ofensivas depreciativas da minha maneira de ser, como ressalvas à minha conduta e personalidade, como se tivessem arrependidos de serem meus/minhas amigos/as, como se estivessem a inteirar de que é uma pena não terem sabido antes que eu era “assim”. Fico mesmo em baixo com tanta falta de tacto. Enfim! Pelo menos a aula lavou-me desta poluição de infelicidade. Acabei ainda por encontrar o meu recente amigo R. na cantina que me fez muito, muito bem!

Decidi ir para casa amanhã bem cedinho. Apanho o Alfa Pendular e… olá Porto! Vou tirar umas fériazitas, uma escapadela estratégica para reabilitação mental e psíquica – que falta me faz a qualidade de vida da minha casinha! Tudo o que eu preciso está lá. Vou ver se faço algum trabalho de introspecção, falar comigo próprio, colocar-me metas, dialogar com o que de mais profundo há no meu ser… verificar onde falho, onde sou bem sucedido, procurar defeitos e qualidades, mas com relatividade, não exagerando nos defeitos e esquecendo as qualidades como tantas vezes faço no estado de baixa auto-estima em que me encontro, de pessimismo endémico e de deturpação doentia da minha auto-imagem. Pode ser que venha com mais alegria de viver, mais feliz, mais bem disposto e com disposição para aturar os outros e a mim próprio, com capacidade para controlar os meus impulsos, com vontade de sair da cama bem cedo para aproveitar ao máximo os dias curtos… Além disso há um projecto pessoal que vou tentar concretizar nestes dias que vou passar em casa. Projecto esse que só o meu amigo B. sabe mas que me vai ajudar imenso a ultrapassar a minha depressão, tal como este fórum faz.

Até daqui a uns dias. Pode ser que venha diferente!

in fórum ex aequo, da associação rede ex aequo

O «projecto pessoal» de que falava era de facto... este mesmo blog!