sábado, setembro 29, 2007

Corro as persianas, e ponho as músicas que escolhi

Confuso. Acho que estás confuso. Ambíguo. Penso mesmo que foste ambíguo. Não podemos ser em sociedade nem confusos nem ambíguos. Mas no dia em que sofri a desilusão de uma impossibilidade não esperada, encontrei-me, de repente, perante dias passados de autêntica ambiguidade, e no fim de contas, todos esses avanços e recuos, falsos sinais e esperanças, não me pareceram mais do que confusão. Saber se foi deliberada, ou mais simplesmente, sinais de imaturidade, é pouco relevante depois do estrago feito. Mas o Sol, esse astro maravilhoso que nos dá a vida, levantou-se no dia seguinte como o fizera no dia anterior, e então, forçado a respirar, a andar, a viver, fui esquecendo, sarando... aos poucos naturalmente, mas fui esquecendo-te.

terça-feira, setembro 25, 2007

Pétalas a voar

É incrivelmente triste ter de passar por um baque de coração quando à nossa frente alguém extraordinário, até aí imaculado, nos diz - com um ar indefinível - já ter o seu coração entregue a outra pessoa, os seus pensamentos mais íntimos e profundos focados noutro, os seus passos depois de um dia de trabalho em direcção ao abraço fraterno de alguém que não nós próprios. É nesse momento infinitesimal que nos apercebemos da nossa fulgurante fragilidade - a nossa dependência da esperança (desesperada) de que façamos parte do pensamento contínuo de outrem. Sou dependente desse carinho que é ter um sorriso só meu nos lábios de outro, de saber-me pensado, recordado e preocupado por outrem que não deseja mais do que a reciprocidade da entrega. Hoje entreguei-me como não o fazia há muito e recebi como resposta não mais do que a impossibilidade de uma retribuição. «Depois de uma Serra, esconde-se uma Serra ainda maior», assim espero.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Política

Já li há algum tempo o “Tratado da Política” de Aristóteles. Gostei de ler o meu primeiro clássico. Já vou no segundo agora.

“Considerado por alguns como o maior pensador de todos os tempos, Aristóteles nasceu no ano de 385 a.C., em Estagiros, pequena cidade da Trácia, fundada por colonos gregos. Nicómaco, seu pai, era médico pessoal do rei Amintas II e consideravam-no como um dos homens mais sábios e cultos da sua profissão. É natural que Aristóteles dele tenha herdado não apenas alguns conhecimentos de medicina, mas também o gosto pela observação directa das coisas que evidencia nas suas obras. Seguiu em Atenas as lições de Platão na Academia. Afastou-se no entanto do mestre para seguir o seu próprio caminho. Ficou célebre a frase que se lhe atribui a justificar a ruptura: «Sou amigo de Platão, mas mais ainda da verdade.» Aliás, quando, mais tarde, já preceptor de Alexandre, foi por este interrogado sobre quem tinham sido os seus mestres, pôde responder com certo orgulho: «Foram as próprias coisas que me instruíram e nunca me ensinaram a mentir.» É enorme a obra que nos legou e em que se condensa praticamente todo o saber humano do seu tempo. Ao analisá-la, não podemos de deixar de ficar impressionados com a vastidão enciclopédica dos seus conhecimentos, com o seu rigor lógico e a sua profundidade metafísica, que fizeram que os historiadores da cultura pudessem falar de um “milagre grego”. Tratado da Política é uma das obras que nos dão bem a medida do génio de Aristóteles, que nela não só esboça uma filosofia sistemática de Estado, mas lança também as bases daquilo a que hoje chamamos o direito constitucional, encarado já nos seus vários aspectos: histórico, nacional, geral e comparado.”

terça-feira, dezembro 05, 2006

3:40 AM

Rodo a chave no canhão da porta com um movimento lento para não fazer barulho. Abro a porta a medo, já com receio do ranger que anda a fazer há algum tempo e que ainda não tive paciência de tratar. O barulho da porta a chiar põe-me chateado comigo mesmo. Entro. Pouso o chapéu-de-chuva. Passo pela sala, agora transformada num escritório em ponto grande, deixo a mochila com o portátil e o casaco, dirijo-me ao quarto. A porta está entreaberta. Espreito. O Miguel dorme algures debaixo do edredão, completamente tapado. Não admira, com o frio que tem estado, e nesta casa, tão perto da foz do Tejo, a humidade é enorme, o que é bom para a minha sinusite mas péssimo para o conforto térmico! Começo a despir-me com rapidez pois o frio aperta, visto o pijama quentinho, de flanela, que o meu amor deixou carinhosamente em cima do antigo aquecedor a óleo que pouco mais faz do que aquecer o que tiver em cima dele, de resto já deu o que tinha a dar. Saio novamente para ir lavar os dentes e passar a cara por água. “Que pena que estejas a dormir...”. Há tanto que lhe queria dizer... Afinal, quando não tinha ninguém estava fechado em mim, num espaço incógnito, sem poder falar sobre mim e da minha vida com ninguém, e agora só me parece uma enorme injustiça não ter um horário para lhe contar tudo o que acumulei o dia inteiro. Lembrei-me que tenho que enviar um ficheiro ao Zeca lá do laboratório e que tenho no PC aqui de casa. Passo pela sala para cumprir o prometido. No quarto ao lado, a pessoa que mais gosto no mundo dorme profundamente... sozinho. Vejo pasta atrás de pasta à procura do ficheiro pretendido. Com este trabalho todo não tenho tempo para nada mas este disco bem precisa de uma reorganização... “Ah, aqui está!” Escrevo qualquer coisa e adiciono o ficheiro como anexo. “Plim!”, um sinal sonoro do PC faz-me tremer. Espero não ter acordado o Miguel, aquele meu boneco lindo. «47 Messages Received» Mesmo quase a ir para a cama e nem o PC de casa me deixa em paz com a quantidade de e-mails que tenho para ler. Passo uma vista de olhos pelo Thunderbird. “Sorte!” Não há nenhum mail marcado como ‘Importante’. Amanhã vejo isto. É agora que vou para a cama. Não... Esqueci-me que tenho a minha medicação. Passo pela cozinha. Lá está na banca a caneca de leite que o Miguel toma religiosamente antes de ir para a cama. Ponho-a, como sempre, na máquina de lavar. Já desisti de lhe pedir isso porque ele com o sono nunca se lembra. Tomo os comprimidos com água abundante. Vou para o quarto. Vejo as armas do Aikidô encostadas à parede. “Que raiva! Tenho que fazer o saco.” O que me vale é que o Miguel quando chega a casa depois do trabalho põe-me o Kimono a lavar, e depois na máquina de secar, e a seguir passa-mo e coloca-o direitinho, dobradinho, para que eu lhe diga sempre que ele é um querido... coisa que digo sempre! :) “Tolha, champô, cinto, chinelos, roupa interior... está tudo.” Não fecho o fecho para não o acordar. Levanto os lençóis e tento meter-me dentro da cama, o que é bastante mais fácil agora que temos a nossa cama de casal, nesta casa nova. Quando vivia com o R. e a N. era o cabo dos trabalhos para dormirmos juntos na cama de solteiro que tinha, e em casa dele também não era muito diferente, mas agora até tenho espaço para entrar na cama sem o acordar. Entrei. Ele vira-se na minha direcção, abraça-me com os olhos semicerrados. “Não te queria acordar boneco”, disse-lhe em voz baixinha, sussurrada. Chega-se para mais perto de mim e encosta a cabeça dele à minha. Como sempre sem sequer se vai lembrar disto amanhã, faz imenso disto, até chega a falar em certos dias, mas no dia seguinte não se lembra de nada. Farto-me de gozar com ele sobre isso. Costumo dizer-lhe que sei tudo sobre ele porque o interrogo à noite e ele diz-me a verdade toda. Enfim, são daquelas brincadeirinhas de casal que dão cor à relação. Sinto a respiração dele na minha pele. É tão bom estar aqui assim, cercado pelos braços de quem me ama todos os dias, de quem acorda apaixonado por mim todos os dias, de quem se preocupa comigo todos os dias, de quem está sempre disponível para mim todos os dias, a todas as horas, à distância de um telefonema, de quem retribui o meu amor e a minha dedicação todos os dias. Sinto-me seguro. Em casa. Em nossa casa. Sinto-me cansado agora, as horas tardias e o dia em frente de computadores e livros, e em reuniões, fazem destas coisas. Encolho-me mais debaixo dos lençóis, aconchegado pelo abraço do Miguel e perco-me em pensamentos para o nosso futuro. O Miguel tem tantos sonhos e ambições... e eu também tenho os meus... haveremos de os cumprir a todos... [adormeço]

06:00 AM

O Miguel levanta-se apressado...Maldito despertador”, injurio eu, nos meus pensamentos, enquanto me viro e coloco a almofada por cima da cabeça. É sempre tão frustrante quando ele tem que sair sem mim tão cedo de manhã. Sai do quarto em direcção ao quarto de banho. Ouve-se água a correr. Está a tomar o duche matinal.Queria tanto estar aí contigo”. Mas, seis da manhã... sinceramente, não me estou a ver levantar tão cedo. Mas a vida é assim, uns levantam-se mais cedo, outros deitam-se tardíssimo, como eu. Na verdade temos que seguir o padrão do local onde trabalhamos, e lá no laboratório de simulação numérica aerotermodinâmica todos temos as nossas pancadas particulares. E todos têm em comum começar o dia lá para as dez ou onze da manhã (madrugada aliás...). Por causa disso não posso passar com ele o tempo que desejava. Quando chego a casa já ele dorme como um menino pequeno, tão ternurento, com a boca semi-aberta, respiração longa, cabelos rebeldes a contrastar com uma pele suave e branca como a neve. Nessas alturas apetece-me acorda-lo com beijo suave, abraça-lo, entrelaçar as suas pernas nas minhas, sentir o batimento cardíaco dele com o meu peito colado ao dele... Mas ele tem que se levantar cedo na manhã seguinte. A porta abre-se e o Miguel entra sem fazer barulho, em tronco nu e uma toalha à volta da cintura. Ajeita o cabelo preto à sua maneira e abre o armário da roupa.Vem para a cama lindo...” digo eu para comigo. Não há nada como o Miguel depois de ter tomado banho, todo cheiroso, quentinho e suave, nos meus braços... Veste o fato e ajeita a gravata ao espelho. São as regras de indumentária da empresa. Mas embora ele tivesse ficado com uma cara de poucos amigos quando soube da regra, o que é certo é que eu o acho uma brasa com um fato de executivo. Olho ternurentamente para ele por debaixo da almofada. Ele retribui com um olhar querido. “Ohh... amor. Não te queria acordar.”, sussurrou-me sentando-se na cama e curvando-se sobre mim. “Beijinho...”, peço eu, ensonado, em voz baixa e arroucada. Um sorriso malandro recorta-se nos seus lábios finos. Beija-me docemente nos lábios. “Agora volta a dormir boneco”, diz-me, cobrindo-me melhor e dando-me festas no cabelo e na face. “Até logo...”. Voltei-me para o lado. Ouvi a porta da rua a bater. Pelo menos no fim-de-semana ia leva-lo a conhecer o Dôjo de Aikidô de Sintra, passear com ele entre os jardins invernais... com pontes arqueadas... o lago... [adormeci]

Sonho

Sonho...

Sem vozes, nem rumores,

Apenas imagens enevoadas

De uma névoa alva.

Sempre o mesmo

Sonho...

Porquê este sonho?

Podia ser qualquer outro

Mas apenas este me segue

Me atormenta a tempo inteiro,

Sim, este mesmo

Sonho...

Pensamentos Constantes

Tenho pensamentos negativos constantes, o que me irrita imenso. Um deles é pôr em causa a minha capacidade de fazer seja lá o que for. Tento sempre evitá-los mas eles aparecem sem avisar e sem serem convidados. Ainda hoje, desgastado por três dias inúteis, depois de ver o que tinha para fazer, assustei-me e vieram-me à cabeça os pensamentos irritantes de sempre: “não tenho tempo para fazer isto”, “já devia ter começado há mais tempo”, “não sou capaz de fazer isto”, “os outros são melhores do que eu”, “faço sempre os mesmos erros”, “adio sempre o que tenho que fazer”, etc... A certa altura tive que parar e pensar, e dizer para mim mesmo: “não sou nem mais nem menos do que os outros e com certeza que irei conseguir”, “tenho que me esforçar e fazer o que puder”, etc... Ainda bem que o D.C. estava comigo e teve uma conversa franca comigo. Quando as pessoas são humanas e mostram a sua humanidade é dos aspectos mais bonitos que se pode encontrar noutro ser humano. Quando são, por outro lado, presunçosas, cínicas, mentirosas e falsas (sempre com a fachada de que tudo está “bem”...), sinto-me constrangido, desconfiado e muitas vezes triste. Não confio naquelas pessoas para as quais tudo está sempre “bem”. Não é normal nem humano estar sempre tudo bem. Prefiro pessoas honesta e abertas comigo, que não se amuralhem defensivamente nem se tornem mais secretas que um agente de espionagem... Caso contrário não haverá bases comuns de entendimento porque há um desequilíbrio de “poder”/“conhecimento”: um sabe tudo sobre o outro, e este último não sabe nada sobre o primeiro. É por isso que tenho que manter a minha mente positiva, e com a ajuda de pessoas bem intencionadas é sempre mais fácil, porque a partilha com outras pessoas sempre foi fulcral para me manter são e feliz. Bem hajas D.C.!

sábado, novembro 25, 2006

Fernando Savater - Política

Li há pouco tempo o livro “Política para Um Jovem” de Fernando Savater, já meu conhecido de “Ética para Um Jovem”, editado em Portugal pela Editorial Presença. Tal como em “Ética”, este livro é interessantíssimo e, em muitas situações, deliciosamente divertido.

Contracapa:
«Política para Um Jovem nasceu de uma promessa feita pelo autor na sua obra anterior, Ética para Um Jovem, na qual se compromete a continuar a debater questões que se prendem com o mundo em que vivemos. Daqui resultou um livro de extraordinário interesse para jovens e todos aqueles que sentem o desejo de conhecer a essência da organização social, a sua rede de laços mais subtis, a sua linguagem, a sua memória compartilhada, os costumes, as leis e, enfim, as questões de fundo - o que realmente está em jogo, quanto ao Poder. No seu característico estilo, didáctico e ao mesmo tempo repleto de humor, o autor analisa a evolução da organização humana em sociedade desde os tempos mais remotos, detendo-se particularmente mas instituições criadas colectivamente, como a Democracia e o Direito, que ainda hoje são fundamentais. O Poder e os seus aparelhos, a exploração do homem pelo homem, a cooperação, a igualdade, a liberdade e a responsabilidade, o racismo e os nacionalismos são alguns dos temas que Savater aqui aborda.»
Tal como quanto ao seu livro anterior, tenho em mente umas quantas pessoas que bem precisavam de umas ensaboadelas de Política! Pode ser que o Pai Natal lhes traga alguma luz nesta quadra festiva.

MUDASTI!

Mudar a forma como vemos as outras pessoas pode ser um processo demorado. Sinto-o na pele todos os dias. Não são raras as vezes quando os outros (amigos, colegas, etc.) me tratam como se fosse simplesmente uma cópia imutável de mim mesmo mas cópia essa tirada há três/quatro anos atrás!

De facto passei tempos conturbados durante os últimos anos e o meu humor nem sempre foi o melhor, a minha simpatia nem sempre foi a mais enternecedora, a minha paciência também teve melhores dias, a minha atenção ficou perdida em divagações, a minha dedicação foi interrompida por um imobilismo atrofiante, entre muitas outras características minhas que mudaram para tons mais cinzentos ou mesmo negros. No entanto, pelo facto de ter sido assim, não há nenhuma lógica de “causalidade efeito” que faça implicar que assim fique para todo o sempre. Há fases da nossa vida que são de facto fases, são passageiras em essência. Tive uma depressão nervosa, clinicamente diagnosticada, tratada farmacologicamente e psicoterapeuticamente. Esforcei-me durante anos para lutar contra mim mesmo, contra os meus medos, contra os ciclos viciosos do pensamento entorpecido de quem não acreditava que valesse a pena viver. Durante muitos destes últimos anos vivi aquilo que era incapaz de viver antes, fiz coisas que me negava a fazer e cresci com os erros de uma forma que pensei não ser possível crescer. Aprendi muito e mudei muito. Muitas vezes as pessoas não notam as pequenas grandes mudanças que houveram em mim mas eu hoje sinto que sou uma pessoa muito melhor do que era.

Ora, constrange-me imenso ver as pessoas que me são mais próximas a verem-me e tratarem-me como se eu continuasse a ser o mesmo rapaz triste, isolado, inseguro, influenciável, carente, enfadonho, antiquado, incapaz, que fui. Quando eu faço algo que sai radicalmente do padrão estabelecido e esperado para mim nas suas mentes paradas no tempo, ficam em “estado de choque puritano”, fazem uma expressão de estupefacção transcendente e riem-se condescendentemente como se o “puto” (eu) não tivesse idade para fazer ou dizer “estas coisas”. Não sinto que tenham um sentimento de verdadeira alegria por me verem muito melhor, recuperado ‘de facto’ e a dar passos para recuperar parte dos anos que não “vivi”. Penso que ficam mais preocupados com a recente mudança de papéis, e o que isso possa implicar nas relações de força e influência no seio do “grupo” - como se os grupos fossem ainda territórios tribais. Quem nunca teve uma depressão não sabe o terror invisível que nos segue a todo o momento e nos torna em autênticos incapacitados, nem tão-pouco é capaz de respeitar a autenticidade dos sentimentos alarmantes e aterrorizantes que afligem a mente de um deprimido clínico. Nunca antes na minha vida tinha chorado tanto e nunca antes me senti tão incapaz. Mas tudo isto foi no passado, um passado que ultrapassei a muito custo. Agora, aquilo que mais anseio é mesmo viver o dia-a-dia de uma forma “normal” (se é que isso existe) e poder saborear as riquezas do viver sem medo. Pensei que iria ter o apoio incondicional dos meus amigos mas aconteceu algo que não tinha nos meus planos: os meus amigos não mudaram a visão monolítica que tinham de mim e, para complicar ainda mais as coisas, eles próprios também mudaram, raramente para melhor devo dizer. De um modo geral encaram-me como “incorrigível” e “imaturo”. Só assim se percebe que continuem a esperar de mim o que sempre esperaram e que fiquem atónitos com as “fugas” ao padrão estabelecido. E também só desta forma se compreende que me ignorem sempre que fale (ou tente...) e nunca tenham grande consideração pelo que digo (uma atitude snobe que repudio). Pois pasmem-se ao ficarem a saber que até as pessoas sem PhD, ou candidatas a tal título honorífico tão ilustre, e que também ainda não trabalham, podem falar, ter opiniões e serem respeitadas pelas mesmas. É um facto consumado que “formação” e “educação” são termos que não se implicam mutuamente. Como diz o velho provérbio: «Não faças aos outros aquilo que não gostavas que te fizessem a ti». As consequências do recalcamento de algumas pessoas, do afastamento dessas pessoas de um “grupo” específico, tem um preço elevado: os perpetradores juntam-se uns com os outros num grupo cada vez mais homogéneo e entediantemente unanimista. Em breve tudo o que era “diferença” desaparece e sobram somente pares que reflectem o que são uns nos outros como espelhos. O tédio de lidarmos connosco mesmos através de pares seleccionados naturalmente (Darwinamente?) para o efeito pode ser perturbador. Quanto a mim procuro pessoas pelas qualidades humanas e princípios que sustentam e não por medidas convencionais da “inteligência” (ou será de “conveniência”?) de alguém (como a classe social, a idade, o tipo de trabalho que faz, o curriculum que tem, os “conhecimentos” que fulano ou sicrano tem dentro deste ou daquele “meio”, etc.).

Tudo isto me faz lembrar aquela publicidade televisiva em que o slogan é «MUDASTI». De facto temos o “direito” a mudar a nossa personalidade. E também temos o direito de, perante a mudança dos outros, fazer escolhas conscientes sobre as atitudes que tomaremos em relação a essas outras pessoas. Por vezes, dada a falta de pontos comuns, o afastamento é inevitável. Outras pessoas no entanto aparecem no horizonte com as quais temos pontos de contacto. E outros velhos amigos revelam uma estupenda capacidade de adaptação à mudança efectuada em nós e ficam presentes, tal como âncoras ao passado. Tu és um deles Rui.

terça-feira, novembro 21, 2006

The United States of Europe

Acabei de ler hoje mesmo o best-seller do New-York Times, «The United States of Europe», subtítulo «The Superpower nobody talks about - from euro to eurovision», de T. R. Reid, editado pela Penguin Books. Um livro muito interessante sobre a nossa própria União vista através dos olhos de um americano.

Contracapa:
«How did Europe become a superpower while the world wasn’t paying attention?

Here, American journalist T. R. Reid takes an enlightening tour to the ‘United States of Europe’ – the borderless collection of countries that now gives America a run for its money.

With his trademark wit and wisdom he explains the often bewildering ins and outs of the European Union and the culture its nations have come to share – from the common pastime of America-bashing and the kitsch joys of the Eurovision Song Contest to the skyrocketing success of the euro. And he tells many individual stories of drama, including the astonishing takeover of brands from Dunkin’ Donuts to Lucky Strikes by the European companies, the English greengrocer who became a ‘Metric Martyr’, and the new breed of the twenty-somethings known as ‘Generation E’.

The United States of Europe is an insightful and entertaining guide to a new Europe that now makes the world’s rules, whether America likes it or not…»
Sobre o Autor:
«Tom Reid was head of The Washington Post’s London bureau, where he chronicled the rise of the European Union, pondered the Eurovision Song Contest and marveled at the provision of free health care. He has covered four presidential campaigns for the paper in the US, and headed their bureau in Tokyo. He is the author of three books in Japanese, and five in English.»