segunda-feira, janeiro 31, 2005

Low Performance

Desde há duas semanas para cá que as coisas têm estado um pouco estagnadas em relação à minha capacidade de estudo, excepto nalguns raros momentos de euforia e de alegria contagiante, que no entanto não chegam, nem de perto nem de longe, para me contentar. No entanto descobri prazeres que antes me pareciam acessórios e que agora me parecem fundamentais. É o caso de um amigo com quem possa viver. Descobri isso nestes dias, quando estive de muito perto a, quase, viver com o R., dado ele estar a atravessar dois momentos complicados da sua vida – o primeiro e óbvio é a época de exames, e o segundo, e infeliz, é o final de um relacionamento de três anos com o namorado. Descobri que estando com outra pessoa, que também tenha os mesmos interesses que eu a nível de estudo, proporciona-me o apoio, estabilidade emocional e frieza pragmática quanto à gravidade ou (im)possibilidade real do dia-a-dia. Essa possibilidade tem-se mostrado muito importante e desde já antevejo uma melhoria significativa da minha qualidade de vida no dia em que estiver num apartamento a viver com um amigo. Um outro factor que descobri que me é benéfico na motivação e rendibilidade do estudo é ter definido um Trabalho Final de Curso – TFC – que ainda não está definido mas que gostava que fosse na área da Propulsão (dentro dela existe todo outro mundo por explorar, e no caso de Portugal, quase nada existe feito, pelo que qualquer iniciativa vai inevitavelmente ser pioneira). Outra área que não desgosto é a Mecânica Orbital (caso em que já há mais know-how a nível nacional o que coloca a dificuldade já não na inexistência de experts mas sim nas metas mais exigentes a alcançar), no entanto penso que a Propulsão de facto é para mim prioritária, sempre sonhei trabalhar nesta área, espero poder vir a fazê-lo. Se pudesse definir o meu TFC o mais rapidamente possível penso que poderia ser capaz de encontrar nalguma coisa a motivação suficiente para me empenhar verdadeiramente na faculdade. Tanto ir viver com um amigo como ter o TFC definido me parecem difíceis nesta altura do campeonato… Que hei-de fazer?!

Agora penso que o melhor mesmo é ir estudar até às tantas mesmo que não me apeteça nada…

sábado, janeiro 22, 2005

A força do desprezo

Há uns dias atrás encontrei, por mero acaso, o Miguel no Átrium Saldanha a jantar. Tinha ido lá depois de uma tarde inteira de estudo e até estava animado. Ao longe distingui-lhe o semblante mesmo no meio de tantas pessoas, confesso que fiquei espantado comigo próprio. “Já não me tinha convencido a mim próprio em esquecer este rapazinho?!” pensava eu perante a explosão de adrenalina que tinha de imediato surgido na minha corrente sanguínea. Ao que parece não… aproximei-me e a medo toquei-lhe no ombro. Ele volta-se para trás e eu, na urgência do momento, pergunto estupidamente, “Ainda te lembras de mim?”. Arrependi-me de imediato, era óbvio que se lembrava de mim, a cara de espanto que fez, de pena por eu ter aparecido, era prova suficiente que se lembrava suficientemente de mim para já estar aborrecido de eu ter caído ali de para-quedas. Estava a falar com duas amigas enquanto jantavam. Fui buscar o meu jantar ao Sabores&Vitaminas mesmo ali em frente. Olhava para trás. Para ele. Falava alegremente com as amigas enquanto comia alguma coisa italiana – Nota Mental: «Ele é capaz de gostar de comida Italiana!». Voltava a olhar para trás. “Será que ele já olhou para mim?” sonhava eu acordado. Era mais do que óbvio que não. Finalmente a funcionária que me servia despachou-se, estava a ver que à custa da sua incompetência ia morrer à fome, ou pior ainda, não ia jantar ao lado do Miguel. Finalmente peguei no tabuleiro e aproximei-me do Miguel. Perguntei-lhe apontando com o olhar para o lugar vago ao lado dele “Posso?”. Acenou-me com a cabeça uma resposta afirmativa. Sentei-me ao mesmo tempo que ele me apresentava às amigas. Fiquei contente. Disse o meu nome! Quando ouvi o meu nome fiquei de repente feliz. Quantas vezes havia já sonhado em ouvi-lo chamar-me pelo meu nome… O resto do jantar foi animadíssimo: fiquei calado a comer, não muito diferente de comer sozinho. Ele, desprezando-me completamente falava com as amigas – que eram do emprego – de costas voltadas para mim, ligeiramente inclinado sobre a mesa. Ria-se. Gostava de vê-lo rir-se. Sempre achei que era umas das melhores características dele, o sorriso maravilhoso que tinha. Achei-o magro quando o observava atentamente enquanto ele falava com as amigas. Achei que sabia que estava a fazer-me sofrer ao desprezar-me daquela forma. Aos poucos, amigos meus da faculdade passavam por mim e cumprimentavam-me. Iam jantar também, mas iam para uma mesa mais afastada porque naquela em que estava não cabiam todos. Deixava-os ir a todos. Tinha a vaga esperança que ainda iria poder ter uma conversa com o Miguel, que iria ser merecedor da sua atenção, nem que fosse somente momentânea. Nada disso. Nem conversa de ocasião, sobre o tempo, as eleições que se avizinham, os exames que também tem… Nada. Apenas silêncio. Desprezo. Comia sozinho afinal. Era um estranho relegado para terceiro plano. A certa altura acabei de jantar. Deixei-me ficar por mais algum tempo seguindo a réstia de esperança de que ele notasse que havia terminado e que falasse um pouco. Sonhava acordado novamente. “Olha Miguel, tenho que ir estudar.” - disse-lhe. Ele disse que também eles tinham que ir embora. Levantei-me e segui na direcção em que tinham seguidos os meus colegas da faculdade ainda há instantes atrás. Estavam os quatro alegremente a jantar, riam, conviviam, falavam uns com os outros. Invejava-os. Tão alegres, sorridentes. Tinha mais uma vez comido sozinho. Chegaria a casa e ninguém me esperaria. No dia seguinte voltaria à faculdade e mais uma vez ninguém me esperaria. Senti-me só. Verdadeiramente só. O ser humano, um animal social por excelência, não deveria nunca estar sujeito a tanta solidão no meio de tanta gente indiferenciada. “Esquece. Segue em frente. Concentra-te nos exames e em acabar o curso.” Não acreditava contudo no que dizia a mim próprio. Não parava de questionar-me no porquê da minha felicidade estar a ser continuamente adiada. “Porque é que não posso ser feliz agora?” De que me serve saber que um dia – no futuro – irei ser feliz, se agora, nesta altura em que vivo, em que necessito de companhia, de um porto seguro, não tenho essa felicidade? Saí do Atrium Saldanha. Estava fresco lá fora. Voltei a embrulhar-me em pensamentos enquanto o meu piloto automático me guiava em direcção à minha sala de estudo. “Compressores Axiais… é o próximo capítulo”.

Cansado e com dores de cabeça…

Estou oficialmente cansado e com dores de cabeça, mesmo depois do Panadol, que parece que não teve qualquer efeito em mim… Esta semana foi de estudo e na quinta-feira tive a infeliz ideia de ir almoçar com o J. e o S. o que só me fez ficar ainda mais nervoso e stressado para juntar à carga normal da época de exames: conclusão, fiquei tão triste que não consegui estudar mais nesse dia nem no dia seguinte e não fui ao exame que tinha na sexta-feira. Gayjos, Gayjos, Gayjos! Quem é que os percebe?! Enfim! Quem me manda a mim andar a confraternizar com esta gente… parece que têm prazer em ver os outros tristes com aquilo que dizem, de facto deve ser algo em que devem ter muito orgulho… sinceramente não percebo, por muito que me esforce. Será que as pessoas não param para pensar os efeitos que as suas acções podem ter em terceiros? Será que eu sou menos normal porque tento não magoar as outras pessoas com comentários ou informações desnecessárias? Bem me diz o R. para eu não me ir abaixo nesta fase de exames, para não me deixar influenciar por alguns badamecos que têm o Rei na barriga, e que pensam que são mais do que os outros, ou de alguma forma tocados pela capacidade de terem sempre as melhores opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, por terem uma posição politicamente correcta sobre tudo, mesmo que muitas vezes seja mais fachada e construção social do que a verdadeira natureza dos seus pensamentos. Pessoas presas a uma imagem que querem manter é algo para o qual não tenho a mínima paciência. Gosto de pessoas simples, directas, transparentes, que sejam aquilo que se vê delas, não gosto de pessoas que vivem umas vinte vidas e só nos mostram uma delas porque é aquela que mais lhes convém mostrar para atingirem os objectivos pelos quais investiram na nossa amizade. Sem dúvida manobras palacianas bem preparadas e pré-programadas. Manter boas relações com X ou Y para mais tarde os influenciar… please… give me a break!

sexta-feira, janeiro 14, 2005

No Comment!

In DiárioDigital:

«Pentágono considerou desenvolver bomba sexual

O Ministério da Defesa norte-americano (Pentágono) considerou desenvolver um conjunto de armas químicas não letais para abalar a moral e a disciplina das tropas inimigas, tais como uma bomba sexual, indicam documentos secretos agora divulgados.

Uma das armas mais bizarras consistia no desenvolvimento de um afrodisíaco que tornasse os soldados inimigos sexualmente irresistíveis uns para os outros.

A intenção era provocar um comportamento homossexual generalizado entre as tropas, o que causaria um golpe «desagradável mas não letal» à moral dos soldados, refere a proposta. [...]»

PARABÉNS ESA!

A Agência Espacial Europeia ESA (“European Space Agency”) recebeu hoje a notícia de que a sua sonda Huygens aterrou em segurança na superfície de Titã, a maior lua de Saturno, lua essa que é considerada uma cópia “congelada” da Terra primordial – nas condições do início da vida no nosso planeta. Além do enorme interesse relacionado com a descoberta das condições existentes para o desenvolvimento da vida, o facto de Titã ter uma atmosfera muito densa e rica em azoto, metano e etano, composta por densas nuvens que cobrem toda a sua superfície impedindo que naves espaciais orbitais possam perscrutar a sua superfície da distância segura de uma órbita, torna absolutamente necessário uma sonda que faça uma perigosa entrada na densa atmosfera da lua para conduzir as investigações necessárias.

Libertada da sua nave-mãe Cassini (da NASA) no dia de Natal, 25 de Dezembro de 2004, a sonda Huygens (da ESA) entrou na atmosfera de Titã hoje, dia 14 de Janeiro de 2005, depois de mais de seis anos de viagem interplanetária desde o terceiro planeta do sistema solar até ao sexto, Saturno, o “Senhor dos Anéis” do nosso sistema. Depois de 20 dias de viagem após ter sido libertada da nave-mãe, uma viagem de 4 milhões de quilómetros, enfrentou o inferno da reentrada atmosférica pelas 11h13 CET de hoje, a sua velocidade desceu de uns vertiginosos 18’000 Km/h para apenas 1’400 Km/h à custa da destruição do escudo térmico, uma série de para-quedas pré-programados fizeram com que abrandasse até aos 300 Km/h a uns 160 Km sobre a superfície de Titã. Dados preliminares enviados pela Cassini indicam que a Huygens aterrou em segurança pelas 13h34 CET em Titã e que continuou a enviar dados para a nave-mãe. A Cassini apontou as suas antenas para o local provável de aterragem durante todo o tempo possível até que desceu abaixo do horizonte da Huygens e deixou de ouvir a sonda europeia. No entanto, os rádio-telescópios na Terra continuaram a ouvir o sinal de presença da Huygens bem depois do seu prazo de vida previsional ter expirado.

Excelente trabalho Huygens! Parabéns! Agora irás permanecer para a eternidade na superfície gelada de Titã como um marco da vontade da “vida” – nós – procurar “vida” onde quer que esta seja possível, será uma prova de que uma civilização inteligente procurou expandir o seu conhecimento sobre o seu sistema estelar, sobre o Universo que nos serve de casa…

A análise dos dados científicos já começou no ESOCEuropean Space Operations Centre – em Darmstadt, na Alemanha. As primeiras imagens devem chegar brevemente à página de Internet da ESA. We´re making history…

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Getting Better!

Assim sim! Hoje o dia foi muito produtivo. Embora me tenha deitado ontem por volta das três da manhã acordei a tempo de apanhar a boleia de um amigo meu para a faculdade. Eram 9h30 e já estávamos a chegar… com o pequeno almoço tomado e tudo! Ora nem mais!

Estudei o dia todo sem interrupções a não ser para a “alimentação” necessária para estudar como deve ser. Almocei e jantei sozinho mas não me importei. Lanchei com o D. e falamos sobre a injustiça da nota de um dos testes dele… estes professores são mesmo tramados, e depois querem que os alunos estudem! Adiantei bastante o estudo e se amanhã correr como hoje estou no bom caminho! :)

À noite passei pela casa do casalinho mais giro da faculdade, R&N. O menino N., que vai ao Aikidô e não toma banhoca [kidding – o que vale é que ninguém lê este blog…], tinha acabado de chegar de um exame e estava cheio de soninho… ele fica com uma carinha de bebé cansadinho quando está com sono, até faz beicinho… perguntem ao R. LOL ;) De seguida passei pelo Continente para comprar mais, guess what…, Manhãzinhos e pacotes de leite achocolatado (e dois RedBull para o caso de ser necessário lá para mais perto do dia D).

Agora vou arrumar umas coisas de que preciso para o estudo de amanhã e vou-me deitar – espero – antes da meia noite, se o bacano do quarto ao lado não decidir fazer um ensaio de canto a solo esta noite! [esqueçam os tampões para os ouvidos… não funciona, já tentei isso!]

Back to Living!

Hoje o dia foi muito melhor do que o de ontem. Depois da história com o Miguel na segunda-feira passei a terça-feira muito divertidamente na cama.

Ontem, terça-feira: acordei com o despertador do telemóvel às 6h30 da manhã – desliguei-o, virei-me para o outro lado e voltei aos sonhos profundos… Voltei a acordar, desta vez com o meu rádio-despertador, pelas 7h45 da manhã – desliguei-o, deixei-me cair nos lençóis, amaldiçoei o dia por vir com tanta luz ("mas porque raio não apagam o Sol até horas decentes para acordar?"), enrosquei-me docemente na cama e voltei a xonar… Passei as três horas seguintes a acordar de nove em nove minutos. O barulho irritante do despertador começou a irritar-me e ocorreu-me que talvez fosse boa ideia desligar o raio do bicho e dormir descansado. Assim fiz. Por volta do meio dia o meu colega do quarto ao lado decidiu dar mais um concerto ao vivo de Mafalda Veiga! Põe o CD de um espectáculo “live” da mulher e toca puxar pela goela… há mesmo pessoas que não se tocam… é pá, ninguém merece, muito menos eu que estava mesmo a precisar de me deprimir em paz e sozinho sem a ajuda das músicas lamuriantes da Mafaldinha… Mas deve-lhe subir o ego ouvir as palmas do Pavilhão Atlântico no final de cada canção. Por incrível que pareça sempre que ouço Mafalda Veiga lembro-me do meu ex-namorado e dos momentos ternurentos que passamos juntos no apartamento dele em Benfica: bons velhos tempos, mas agora só servem para me ir abaixo ainda mais… Por volta da uma da tarde deve ter dado fome ao garoto e lá parou o show “particular” – da fama de cantar alto no quarto já não se livra: antes de vir para o meu piso avisaram-nos que ele era mesmo assim!!! Voltei a adormecer… Sempre que acordava comia alegremente um “Manhazinho” (da Bolicao). Tinha comprado na segunda-feira dois pacotes familiares… na terça-feira à noite já tinham ido todos! Os pacotes de leite achocolatado esgotaram por volta das 18h00. Fiquei a água até às 23h00… Nessa altura já não tinha tanto sono… afinal tinham sido quase 24 horas seguidas na cama. Lá optei por me levantar e ir postar um cadinho aqui no blog… Depois disso fui sorrateiramente até à cozinha quando já não havia lá ninguém e comi um pratada de Chocapic! De barriga cheia voltei para o quarto, tomei os pills da praxe e voltei a dormir… Nice Day!

Hoje, quarta-feira: acordei com o despertador do telemóvel às 6h30 da manhã – desliguei-o, virei-me para o outro lado e voltei aos sonhos profundos… Voltei a acordar, desta vez com o meu rádio-despertador, pelas 7h45 da manhã – desliguei-o, deixei-me cair nos lençóis, amaldiçoei o dia por vir com tanta luz ("mas porque raio não apagam o Sol até horas decentes para acordar?"), enrosquei-me docemente na cama e voltei a xonar… Passei as três horas seguintes a acordar de nove em nove minutos. O barulho irritante do despertador começou a irritar-me e ocorreu-me que talvez fosse boa ideia desligar o raio do bicho e dormir descansado. Assim fiz. Por volta do meio dia lembrei-me que hoje tinha sessão de psicoterapia pelas 14h00 na Faculdade. Deixei-me dormitar irrequieto até às 13h00. Levantei-me a custo. Olhei para o espelho. Bocejei. “Que cara mais cheia de borbulhas… que corpo magro… que merda de vida.” Lá me despachei. Consegui chegar atrasado à consulta mas soube-me bem voltar a ver a Dra. Neuza. Após a consulta fui almoçar uma tosta mista, um galão e uma salada de fruta. Que alegria quando vi o casalinho R&N juntinhos no Alkimia. Conversamos imenso. Rimo-nos. Falamos do Miguel, de mim, do estudo, do meu ex, do actual companheiro dele, do Aikidô, do professor, dos exames… corte e costura gay feito à medida! De seguida fui estudar para a associação de aero e voltei à faculdade para o meu imprescindível Aikidô. Quedas placadas! Woww! Fantástico. Estou a apanhar o jeito… com o tempo… e nas simulações! ;) Fui jantar com o S. A certa altura recebo uma mensagem da Sara Cacao a perguntar-me se queria ir à ante-estreia do filme “Shall We Dance”. Aceitei e uma hora mais tarde estávamos no Colombo para o tal filme: ainda não sabíamos se iria ser alguma coisa de especial ou uma daquelas banhadas de borla, mas nada como juntar duas pessoas oficialmente em baixo, para o resultado serem duas pessoas momentaneamente em cima! :) O filme acabou por ser delicioso e fartei-me de rir durante todo o filme. Saímos do cinema alegres. Cheguei a casa alegre. Sentei-me a escrever este post alegre. Comi alegremente uma pratada de Chocapic. De barriga cheia voltei para o quarto, tomei os pills da praxe e vou agora dormir… Nice Day!

quarta-feira, janeiro 12, 2005

The End of a Dream

A força de inércia actuava em todo o meu corpo. Decrescendo de velocidade até à imobilização final, segurava-me com uma mão à barra de alumínio que liga o chão ao tecto do metro. As portas abriam com um pequeno estrondo enquanto o metro acabava de parar. Saía com o passo acelerado acompanhando a massa humana que caminhava como um todo para a saída da estação. Filas para passar nas portas automáticas do metro. Sempre alguém a tentar enganar a máquina, sempre alguém que protesta veementemente com a máquina, lançando raios e curiscos pelos olhos, e perdigotos pela boca salivante através dos palavrões exaltados com que manifesta a maçada por a porta não abrir. Uma menina simpática diz-lhe que deve afastar-se da porta antes de colocar o cartão com o chip electrónico. O homem com uma cara de quem não entendeu o que ela queria, deu um passo atrás, passou a carteira uma vez mais na perturberância azul da máquina e um sinal sonoro breve assinalava o abrir mágico da porta. Avançou rapidamente abanando a cabeça como que constatando uma vez mais a miséria em que está o país.

Apesar de estar consciente de que iria chegar muito antes da hora combinada, algo impedia que as minhas pernas andassem um pouco mais devagar. As minhas pernas dirigiam-me autonomamente, como um veículo robotizado automático que segue uma rota padronizada, para o meu destino. As pessoas que me envolviam a essa hora da noite eram poucas mas pareciam-me sombras que passavam, difusas, imperceptíveis, sem importância. Rodopiando livremente as preocupações acotovelavam-se em frente aos meus olhos. Será que a mulher com que havia falado no Domingo ao telefone marcou mesmo a mesa para dois? Estava um pouco de barulho no background enquanto falava com ela. Será que percebeu bem o meu nome? Desde a semana passada que estava neste estado ansioso, sôfrego por este momento. Agora, a uma hora das onze da noite tremia sem razão. Havia telefonado com tempo, confirmado a actuação dos Donna Maria que havia conhecido na semana anterior, tinha escolhido a mesa que queria, até inclusivamente pedido uma vela especial para a mesa para dar um ar mais aconchegado e romântico. Teria que ser romântica essa noite. A luz do cinema Quarteto fazia-se ver agora ao fundo por entre as árvores. Os carros passavam apressados pela Avenida de Roma. Como sempre, em Lisboa toda a gente tem pressa, mesmo à noite há sempre alguém que tem que ir rapidamente para o outro lado da cidade, muitas vezes jovens como eu a encaminharem-se para o Bairro Alto a grande velocidade.

À porta dos Templários um jovem alto conversava com o funcionário do bar que estava a controlar as entradas. Olhei em volta nervosamente procurando o Miguel. Como seria óbvio ainda não tinha chegado, afinal de contas faltava quase uma hora para a hora marcada. “Que seca que vou apanhar…”, pensava eu ao mesmo tempo que fazia uma nota mental para que da próxima vez não venha de véspera só para acalmar a ansiedade. O Miguel era um rapaz da minha altura, tinha olhos azuis mas que por vezes passavam a verde conforme a luz ambiente, era magrinho – talvez mais do que eu – com uma estrutura frágil – que tanto me atraía, cabelo curto e claro. Costumava vestir casualmente e tinha um sorriso maravilhoso, o que é pena é que não costumasse rir tanto quanto eu gostaria de o ver a rir. Infelizmente tinha um feitio difícil. Reservado até para os amigos mais chegados, fazia de qualquer tentativa para o conhecer um verdadeiro exercício de estratégia militar, de planeamento, de paciência e de perseverança. Por motivos que desconhecia detestava o telemóvel e só o usava para enviar e receber sms’s. Era escusado telefonar-lhe para saber se por acaso já tinha saído de casa, se estava a fazer tempo em casa, ou se iria chegar atrasado por qualquer inconveniência. O único meio de comunicação que tinha com ele era mesmo o MSN. Benditas novas tecnologias! Se não fossem elas teria sido impossível conhece-lo, conversar com ele, apaixonar-me por ele e combinar este café especial que, esperava, iria revelar as possibilidades de vir a ser retribuído.

Decidi ir ao Quarteto ver os filmes que estavam a passar por esta altura de Janeiro – com a época de exames durante este mês havia pouco mais tempo livre do que o estritamente necessário para comer e dormir. As vozes e risos de grupos de pessoas começavam a ouvir-se, carros que andavam à caça de estacionamento pela Rua Flores do Lima avançavam muito vagarosamente na “volta dos tristes” – para quê trazer carro quando o metro é mesmo ali ao lado? Os cartazes mostravam os filmes em exibição e os que estariam brevemente em estreia. Nenhum me chamou particularmente a atenção. Vagueava mais do que tudo pelos meus pensamentos. Não deixava de me espantar quão diferente estava o Miguel desde a última vez que o tinha visto. Tinha um blog na net muito popular, e desde Junho do ano passado que o via regularmente, para não dizer diariamente, em busca das novidades do seu dia, tentado entrever por entre as linhas que escrevia o estado de espírito dele, certificar-me que não tinha ainda encontrado um rapaz pelo qual se tivesse apaixonado… Apesar ter tentado aproximar-me dele desde essa altura nem tudo correu bem e algumas vezes zanguei-me com ele. Verdade seja dita que pelo MSN sou um especialista em zangar-me com as pessoas, zangas essas que seriam pouco prováveis se pudesse falar com ele pelo telefone ou pessoalmente, em vez da impessoalidade do MSN. Mas que remédio tinha eu senão sujeitar-me aos condicionalismos dele. Sei que o ano passado não foi um ano particularmente bom para o Miguel. Tinha saído de casa pela primeira vez e estava a morar com dois amigos. A faculdade estava muito parada embora gostasse do curso de informática que estava a tirar. Relacionar-se com outras pessoas era muito difícil e muitas vezes chegava a escrever no blog, encolerizado, que ter relações humanas era demasiado trabalhoso e desgastante. Em parte concordava com ele, olhando para a minha própria vida era óbvio que nunca tive muita sorte nos relacionamentos que tive com outros rapazes. Mas pelo facto de sermos parecidos neste aspecto da nossa personalidade fazia-me crer que talvez com ele fosse possível um relacionamento bem sucedido. Os ingredientes para o sucesso estavam todos lá, pelo menos da minha parte. Uma vaga de pessoas saía divertidamente pelas portas do Quarteto. Devia ter acabado à poucos minutos algum filme e estava a gerar-se alguma confusão no passeio pelo que resolvi voltar para trás, em direcção aos Templários.

Senti o telemóvel a vibrar. Tinha recebido uma mensagem. Tirei o Siemens do bolso das calças verde escuro que estava a usar e carreguei vigorosamente no teclado para aceder à mensagem. Tremia. Era o Miguel. Uma onda de calor percorria-me o corpo, sentia as pupilas a dilatarem, as pernas fraquejavam. Dizia-me que tinha vindo mais cedo porque levava o carro e tinha medo que não houvesse estacionamento. Lancei uma maldição a mim próprio por ter criticado, ainda há instantes, os condutores por levarem carro para o cinema. Dizia que tinha acabado de estacionar e que estava a caminhar para os Templários de acordo com as indicações que lhe havia dado no Domingo. O programa automático das minhas pernas tinha começado a funcionar. A uma velocidade crescente encaminhei-me para os Templários. Estava à porta. Olhava em volta. Perscrutava cada semblante, cada sombra, quaisquer sons de passos faziam-me virar como um radar para a origem do ruído. «Acalma-te Pedro. Acalma-te.» Repetia a mim próprio. Sustive a respiração quando o reconheci, tentando não asfixiar e não parecer nervoso sorri-lhe. Retribuiu-me o sorriso. Estava lindo.

Cumprimentei-o com um aperto de mão e um olhar profundo, íntimo e cúmplice. A uma velocidade alucinante imaginei-me a beija-lo, suavemente, como dois namorados que não se viam há uns tempos. Ainda não acreditava que ele estivesse ali mesmo à minha frente. Ainda antes da passagem de ano me pareceu impossível que ele saísse comigo, especialmente com a facilidade e entusiasmo que tinha demonstrado quando falamos no MSN durante a semana passada. Finalmente tinha mudado, estava mais alegre; aliás, via-se pelo sorriso que ainda conservava enquanto entravamos para o hall do bar. Na noite anterior tive uma insónia descomunal. Mesmo sabendo que o encontro era só às onze horas da noite de segunda-feira, passei a noite em claro agarrado ao computador. No meio disto tudo quem sofreu mais foi o Nuno que me aturou durante parte da noite, até estar tão cansado que teve que fazer uma despedida unilateral e sair do messenger! Tive a contar-lhe os pormenores de todas as conversas que tive com o Miguel durante a semana passada, comentava todas as frases e palavras que o Miguel me tinha dito, entusiasmado com tudo o que acontecia contava-lhe os planos para a saída que tinha preparado com tanto carinho, as esperanças e os sonhos que alimentavam a verdadeira razão desse convite. O Nuno estava feliz por mim, estava verdadeiramente feliz. Era o meu melhor amigo e sabia o quão importante seria este “café” com o Miguel. Suportava as minhas mágoas e recaídas há muito tempo, e sabia que se tudo corresse bem neste encontro eu iria ser muito mais feliz do que tinha sido até então.

Sentamo-nos na mesa que havia escolhido. A vela estava lá como esperava e a menina que nos indicou a mesa levou a pequena placa a dizer “Reservado”. Ao longe montava-se o placo para a actuação que iria ter lugar por volta da uma da manhã. À nossa volta, espalhadas pelas mesas, grupos de amigos e casais conversavam animadamente. Senti-me parte deste mundo, deste país, desta sociedade. Estava ao lado de uma pessoa que adorava, num ambiente que gostava, descontraído e feliz, a viver a vida que afinal era tão bela e tão simples. Ri-me. O Miguel olhou para mim com uma cara enternecida e interrogativa. Disse-lhe que não era nada. Estava de facto a rir-me da minha vida, do quanto me havia sentido perdido e sozinho, quantas vezes havia perdido a esperança de encontrar um rapaz que quisesse uma vida a dois estável. Era possível, e estava mesmo à minha frente com uma camisola da Pull & Bear! Verti muitas lágrimas até chegar a este ponto, mas valeu a pena. Senti o perfume dele. Começamos a falar sobre casualidades, sobre o meu curso, sobre o curso dele, sobre os part-time dele, sobre as associações de que faço parte, sobre os projectos de cada um de nós.

A certa altura ele vira-se para mim e diz-me “Tenho uma coisa para te contar!” Os olhos deles brilhavam. Debruçava-se mais sobre a mesa. Tive uma paragem cardíaca momentânea e uma emoção desmesurada tomou conta do meu peito, as lágrimas vieram-me aos meus olhos e um sorriso enorme abriu-se nos meus lábios, vermelhos do sangue impulsionado pelo coração acelerado. Sentia que ele ia dizer algo de muito pessoal, as mãos dele tremiam. Olhava-me nos olhos. Parecia que ele conseguia ver a minha alma e ouvir os meus pensamentos. “Estou apaixonado!” Abri ligeiramente a boca de estupefacção. Não acreditava no que estava a ouvir. Ele estava a abrir-se comigo de uma forma que nunca antes havia visto e sobre algo muito pessoal. Queria dizer-lhe “Eu também!”, mas queria ainda mais do que isso ouvir pela boca dele as palavras mágicas.

Lembras-te de quando me dizias que deveria ser mais sociável?” – pergunta-me com os olhos fixos nos meus. Acenei com a cabeça prontamente. Estava com a garganta seca, um nó no estômago, uma interrogação na mente. “Pois bem, assim fiz. Conheci um rapaz muito especial no emprego e que também é da minha faculdade. Vê lá como o mundo é pequeno… É divertido, interessante, bonito, super fashion, tem muitos gostos parecidos com os meus e uns olhos azuis penetrantes. No princípio pensei que me teria que livrar dele o mais rapidamente possível, fulmina-lo e despedaça-lo todo… mas houve algo nele que me fez pensar melhor. Ele tinha algo de especial, algo que não via nos outros rapazes… pelo menos nos que conheço… Cedi o suficiente para o conhecer melhor. E prontos! Estou definitivamente, e completamente, apaixonado por ele. Acabei por passar a passagem de ano com ele. Tinha que contar-te. O teu convite veio mesmo na altura certa. Nesta vida não há coincidências…”.

Sorria. Por dentro implodia. De repente fiquei como se não estivesse no meu corpo, como se me estivesse a ver de fora dele, a contemplar o meu corpo sem alma, a ver a ridicularia dessa massa disforme a que eu chamo corpo… Sentia-me oco, trespassado, isolado… Sorria. O sangue jorrava para as veias, quente com a dor desta revelação. Não haveria comprimido algum neste mundo que eliminasse a dor que estava a sentir nesse momento, a pressão cáustica no peito de quem sofre a perda de alguém era colossal… Sorria. Nuno! Nuno! Onde estás? Preciso de ti. Preciso do teu ombro, do teu colo, das tuas mãos a afagarem-me os cabelos enquanto choro encostado a ti até adormecer de cansaço. Onde estás Nuno? Sorria…

terça-feira, janeiro 11, 2005

Wake up Dreaming Boy!

Os dígitos vermelhos do meu rádio-despertador marcam 4:45. Segunda-feira. Há meia hora atrás havia chegado da faculdade onde estive a estudar com a minha amiga R.J. e uns amigos dela. O zumbido contínuo do termoventilador é o único barulho audível a estas horas, o piso da residência está silencioso.

Hoje, apesar da hora tardia, estou desperto. Este fim de semana foi uma nódoa gigantesca no que havia sido uma boa entrada em 2005. Deixei a depressão tomar conta dos meus sentidos, deixei-me, como outrora, ficar aprisionado à cama durante dia e noite, somente levantando-me para jantar.

O episódio com o J. ainda está vivo na minha mente, a dor e a surpresa ainda batem no meu peito. «Não te podes deixar ir abaixo…» ecoa a voz do N. que quer sempre o meu bem.

Este fim-de-semana cometi um erro. Deixei-me levar pela minha imaginação, deixei que ela abarcasse o real e me controlasse as acções, por momentos sujeitas à força poderosa de emoções, sentimentos, desejos e esperanças nunca consentidos pela razão. Sem raciocinar quis à viva força fazer com que um amigo meu saísse comigo na segunda-feira. Bem me avisou o N. para ter cuidado, para não depositar muitas esperanças onde elas não existem, para não vir a sofrer com os desencantos da realidade, com a frustração das minhas expectativas renascidas ao mesmo tempo que este novo ano despertava…

Tinhas razão amigo. Sonhei alto. Demasiado alto. As esperanças recônditas dos meus mais profundos desejos foram colocadas à luz do dia, e com elas o ridículo em que caí… Cada um deve saber aceitar quando deve parar e abandonar um sonho, quando deve transformar uma esperança vincada numa vaga memória de uma ilusão antiga e inocente de quem ainda acredita poder mudar as pessoas, de quem ainda não percebeu que não é especial, mas apenas mais um entre tantos. Ainda me lembro do que sentia quando lia as palavras doces e sempre novas dele, simples e completas, sucintas e profundas; a ilusão criada pela minha inventiva mente de que ele queria dizer-me, a mim, qualquer coisa, sonhava que ele escrevia certas frases para me chamar a atenção, a mim – e a mais ninguém – de que ele estava diferente, que havia mudado o suficiente nestes meses para, desta vez, poderem ser possíveis sentimentos e compromissos que antes eram inviáveis. A perfeita teoria da conspiração. Estarei a dar em maluco? Afinal que tem ele de especial para me colocar nesta subserviência emocional calamitosa, neste estado de quase dependência. Se fosse a raciocinar chegaria claramente à conclusão pragmática de que ele nunca quis realmente nada comigo, que sempre me evitou, sempre pôs bem claro que não depende de mim nem de ninguém, que é forte.

Não me esqueço contudo do que me disse uma noite algures no centro de Lisboa: «Mas afinal o que é que tu queres?». Não me esqueço do seu olhar fatigado e entediado de quem atura uma “lapa” inoportuna. Recordo-me de ter pensado: “não será óbvio?”. Talvez eu queira e esteja disposto a dar algo, para o qual ele não esteja disponível ou preparado para receber e retribuir. Talvez seja tudo um sonho atribulado e eu vá acordar em segurança, na minha cama, enroscado aos lençóis, só deixando o nariz de fora para provar o frio da manhã ainda a despertar à luz dos primeiros raios de sol… mas se foi um sonho, apesar de tudo, foi um sonho bom porque, por momentos, a minha vida voltou a ter uma razão de ser nobre e digna…

sábado, janeiro 08, 2005

A Dead Day

Nem sabem o quão entediado estou… dormi a noite e o dia todo, acordando de vez em quando mas virando-me imediatamente para o outro lado para voltar a adormecer, não queria viver este dia, e isto tudo porquê? Porque o meu “amigo” J. sabe mesmo como me magoar e pôr deprimido. Sei que ele tem consciência do que me fez mas, mesmo assim, ou deve-lhe dar prazer ver-me infeliz ou deve querer afirmar-se perante seja lá quem for… O dia foi de uma tristeza terrível… Quando se aproximava a hora de jantar comecei a pensar em levantar-me, erguer-me penosamente da cama, pensando a cada momento “tenho que levantar uma perna e coloca-la no chão”, “depois a outra”, “tenho de pôr-me em pé”, “girar sobre mim próprio e abrir a porta do quarto de banho”… Tudo, mas mesmo tudo, é difícil quando estou triste, deprimido. Agora ele deve estar a contorcer-se de alegria ao ver que não cumpri as três horas entre cada refeição, não acordei cedo, não estudei, não saí de casa, não fui às compras, não cumpri os meus objectivos diários, ou seja, deve estar a pensar, «ainda bem que me livrei desta nódoa de pessoa». Pois que pense, e pense nisso todos os dias, a todas as horas, porque eu vou-me levantar, vou estudar, ser alguém, fazer coisas que ninguém antes conseguiu fazer, amar alguém que mereça ser amado e não vou precisar de mascarar a hipocrisia sendo política e socialmente correcto, não precisarei disso… poderei demorar muito tempo até lá chegar, mas a cada passo aprendo, a cada turra aprendo, por cada lágrima aprendo.

Vou agora aproveitar a calma da noite para tentar estudar, com a companhia da Lua de Armstrong e dos meus livros… vou tentar recuperar da pequena queda que tive e esquecer o empurrão que me deram…

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Moment of the day…

Estava descansadinho da vida na faculdade a falar com o A. quando chegam mais dois amigos nossos, o J. e o S.. Sentaram-se ao nosso lado no bar como seria esperado deles. A conversa estava animada e já estava a sentir-me melhor. Contava alegremente coisas interessantes ao A. e ele a mim, sobre as mais diversas coisas, como o curso, as cadeiras que cada um tem para fazer, os exames, as datas ranhosas que nos calharam, como nos estávamos a aguentar nesta época de exames… coisas normais de dois estudantes da mesma faculdade mas de cursos diferentes.

O S. estava à espera de uma torrada de uma forma bastante stressante porque estava cheio de fome, e já começava a resmungar raios e curiscos sobre a demora da torrada, quando o A. começou a brincar com ele acerca isso. Passado algum tempo a torrada foi “anunciada publicamente ao bar” (como sempre acontece no Alkimia, ninguém tem privacidade naquilo que come…) num tom bem audível. Comecei de imediato a dizer para o S. -- «Olha a torrada…vá lá, levanta-te…então não queres a torrada…depressa…corre…» -- ao mesmo tempo que ele estava a levantar-se, e também alinhando comigo na brincadeira, fui logo veementemente apoiado pelo A. ao apelo na corrida à caça da torrada. LOL

O S. volta do balcão e senta-se, tira um guardanapo, pega numa porção da torrada e prepara-se para a comer quando ao mesmo tempo é anunciada «TORRADA!» no balcão… Hipótese demasiado fácil para ser desperdiçada levianamente. -- «Olha a torrada…despacha-te… então? Vai buscar a torrada…ainda estás aqui?» -- repeti-lhe eu na brincadeira enquanto tanto ele como o A. se riam.

«Agora estivestes bem!» -- disse-me o A. no meio de gargalhadas cúmplices ao meu humor.

«Não comem nada?» -- perguntou o S. ao olhar para mim e para o A., frente a frente, com a mesa limpa à nossa frente.

«Já lanchei o primeiro lanche. Como almocei cedo tenho que tomar dois lanches para ter três horas entre refeições!» -- respondi casualmente mas divertido pela justificação politicamente correcta para a fome danada e a pilha de nervos com que estava, pois esses nervos sim, justificavam os lanches e as conversas descontraídas no bar. Tinha almoçado pela meia hora e eram quatro horas nesse momento. Havia estado até a comentar com o A., antes de o S. e o J. chegarem, que estava a pensar tomar o meu ansiolítico também ao pequeno almoço uma vez que estava com níveis de ansiedade elevados, tremia imenso e tinha dificuldades de concentração no estudo em mãos.

«Fazes-me rir.» -- diz o J., sério, com uma ponta de maldade muito visível como que com pena por eu ser como sou e ter dito o que disse.

Fiquei chocado e surpreso. Sorri. Entristecia-me e estava profundamente magoado com ele, uma vez que ele conhecia-me melhor do que ninguém e soube na primeira pessoa o que eu havia passado quando tive as piores fases da minha depressão e ideação suicida – sabia que durante essas fases muitas vezes não tomava o pequeno almoço, nem comia nada a meio da manhã, nem almoçava, apenas comia qualquer coisa a meio da tarde e jantava, ficava acordado até tarde sem comer nada de tão deprimido que estava por forma que até mexer-me para ir comer me parecia ridiculamente fútil. Mesmo sabendo o quanto eu melhorei, o quanto eu me esforcei e passei para hoje estar suficientemente melhor para ter uma alimentação mais equilibrada, conseguir levantar-me mais cedo, deitar-me mais cedo, planear os dias, as semanas e os meses para não ficar ansioso, mesmo após mais de dois anos de psicoterapia e de consultas psiquiátricas, antidepressivos, ansiolíticos, complexos miltivitamínicos e multimenerais… mesmo assim, e contra toda a minha expectativa, sai-se grotescamente com esta tirada que me deixou profundamente perturbado. Levantei-me, acabei a conversa com o A. e saí dali para fora com o pretexto de ir estudar – não posso estar sujeito a estes ambientes, foi o que a minha psicóloga me disse ontem na consulta semanal. Na altura referia-se às «intimidades reveladas» involuntária ou propositadamente por pessoas tais que os seus passados se cruzaram com o meu e que sabem bem o que me magoa e como realçar aspectos mais negativos do meu passado e do meu presente, sempre apostos para apontar defeitos, realçar fragilidades e falhas, ou então ter um discurso paternalista para com “o coitadinho”.

Não vou alimentar discussão alguma.” – pensei – por isso não dei sequer azos a uma discussão sobre este comentário/observação malicioso e depreciativo. Só pessoas que não acham a sua vida suficientemente interessante é que aproveitam a fragilidade de outros para os fazerem sofrer, ferindo-os onde sabem que vai mesmo doer e marcar.

Bom, será mesmo melhor continuar a estudar e não pensar muito nestes percalços diários. Como diz muito bem o B., “dá demasiado trabalho manter relações humanas”, ao que eu acrescento, “especialmente com pessoas que se divertem a fazer a vida dos outros menos alegre do que poderia ser”. Levar a vida mais a sério do que ela merece é masoquismo, mas se é uma forma de viver para algumas pessoas quem sou eu para questionar seja quem for, mas tentar impor isso aos outros é que cruza a fronteira do aceitável…

… a different lesson every day, and I will grow up taller and taller by this way …

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Intimidades reveladas…

Não raras vezes acontece-me certas pessoas que tiveram uma relação próxima comigo, ou então os seus actuais companheiros, terem a infeliz oportunidade de revelarem parte da sua “nova” vida amorosa, sentimental e até sexual… Como seria de esperar, “agora” tudo é cor-de-rosa e, por isso, falam sobre «certas e determinadas situações» íntimas que no mínimo me afectam emocionalmente! «E depois fico chateado. É claro que fico chateado!» Poupem-me os pormenores de felicidade extrema por que passam neste momento em especial relativamente a pessoas que foram muito próximas de mim (e.g. ex-namorados). Além de ser socialmente incorrecto – porque tenho que engolir muitos “sapos vivos” à custa disso - causa-me mal estar porque tenho a tentação imediata de imaginar as situações de intimidade que outrora tive com essa pessoa, mas comigo substituído pelo actual companheiro, que como devem imaginar – e se não imaginarem algum dia terão essa oportunidade na primeira pessoa… – causa uma dose de sofrimento involuntário desnecessário e perfeitamente evitável…

O mais peculiar destas situações é que quem não tem um relacionamento (como eu) e que já se esqueceu do que é ter um relacionamento (como eu) – dado o tempo continuar a passar mesmo quando não temos companheiro – também se esquecem que todos os relacionamentos têm altos e baixos, que nem sempre as pessoas envolvidas estão totalmente satisfeitas, que existem sempre dúvidas e tentações, que o que aparenta muitas vezes não é, enfim, que o amor apaixonado e perfeito não existe na realidade, e que é preciso muito trabalho e sacrifício para manter uma relação amorosa saudável. Embora recordar-me desta verdade de La Palice não me dê grande alento, pelo menos não caio na generalização de pensar que a vida me está a passar ao lado e que ando por aqui perdido sem encontrar aquilo que é mais importante na vida: o amor. Nem preciso de procurar muito, basta olhar para mim no que toca ao relacionamento falhado (abortou antes de nascer) que tive mais recentemente: levei desde logo este relacionamento com muita calma, sem me atirar de cabeça, vendo a cada momento o que sentia e o que via do outro lado, tomei a decisão de continuar a apostar nele, mesmo com alguns indícios de que algo não estava a correr bem, e tomei essa decisão porque achei que apesar de tudo, somando os prós e os contras, sobrava uma parte positiva que me iria preencher a alma parcialmente – mesmo assim houveram situações muito complicadas a ensombrar a minha mente e espírito, uma vez que não me esqueci ainda de um rapaz, que acho excepcional, e que me entrava involuntariamente na mente mesmo quando estava com o meu ex-novo-"companheiro-potencial". Chegava a pensar muitas vezes que talvez me tivesse precipitado e que deveria ter insistido mais com o rapaz especial que havia conhecido antes, mesmo sabendo conscientemente que não tinha a mínima hipótese com ele – mas como se diz: «a esperança é sempre a última coisa a morrer».

… it is lessons like these that make me grow up…

Trupe Gay de volta à Fac!

Hoje foi um dia de reencontros. Comecei logo pela manhã com um breve encontro com a L. e a R. que já não via há semanas… continuam apaixonadas e felizes! Tomei café com o A. a seguir ao almoço e pusemos a conversa em dia. Lanchei e encontrei-me com o R., o N. e a M. Mais tarde vieram o J. e o S. seguido do A. Ainda mais tarde encontrei-me com o D. para falarmos sobre as aventuras e desventuras amorosas de ambos – conversa típica de dois gays! :P

Fiquei contente por estarem todos bem, todos de boa saúde, a estudarem para os exames. Só não gostei de um comentário do A. à minha proposta de irmos (eu, ele, o N. e o R.) passar uma semana ao Algarve nas férias entre semestres. Olhou para mim, sério, sossegado e muito calmamente – como se fosse a coisa mais banal do mundo – disse-me que só nos conhecíamos à pouco tempo e que não iria com certeza para férias comigo porque ainda não somos suficientemente amigos. Fiquei estarrecido, incrédulo e triste. Enfim, estava a tentar aproximar-me mais dele neste semestre e pela conversa das duas da tarde parecia que estava a conseguir… parece que afinal não! Há pessoas com o dom de me magoarem.

Conclusão, a trupe gay habituè do Alkimia voltou ao ataque! LOL :)

Psico Business...

Hoje tive uma consulta com a Dr. Nazaré, a minha psiquiatra. Foi interessante a conversa que tive com ela, adoro a forma resoluta e prática como aborda os problemas e as suas soluções.

Falei-lhe do meu receio da cronicidade da depressão mas ela disse-me que com a minha idade (23 anos) e com os meus recursos pessoais tenho grandes probabilidades de resolver a depressão e de a controlar (e não ela a mim), aumentando o meu desempenho e melhorando a minha forma de ser.

Como estava à espera aumentei a medicação do meu antidepressivo e vou continuar a tomar o meu ansiolítico à noite. Agora só lá volto dia 22 de Fevereiro. Vamos lá a ver como estarei nessa altura. Em todo o caso disse-me, já hoje, que da última vez que estive com ela estava com uma sintomatologia depressiva mas que a tinta depressiva actual era menor e que me achava menos deprimido. Talvez tenha razão. Em todo o caso acho que a mudança de ares – ter vindo para Lisboa agora no início de Janeiro – fez-me muito bem e estou melhor do que há uma semana atrás. As férias foram muito deprimentes e angustiantes. A minha (pseudo) relação afectiva também fracassou e o facto de também não ter motivação para estudar ajudou a que estivesse mortinho por uma “mudança”. Se pudesse “mudava” alguma coisa todas as semanas e talvez assim, com a motivação de uma nova fase na vida, pudesse enfim ser feliz. Espero que possa ter uma época de exames muito produtiva para ver se me motivo para um segundo semestre excepcional! Lets see…

terça-feira, janeiro 04, 2005

R.J. Birthday

Ontem, por volta das 23h30 estava a chegar aos “Templários” para comemorar o aniversário da minha amiga R.J. Ela estava super bem-disposta e foi uma alegria voltar a vê-la depois deste interregno festivo do Natal. Estivemos na cusquice um com o outro sobre, ela, os gajos, eu, os gayjos… pelos vistos não sou só eu que tenho tido problemas de relacionamento afectivo com seres humanos do sexo masculino. É pá, são tão complicados!!!

Assistimos ao concerto dos “Donna Maria”, tive muita sorte porque estava mesmo em frente ao palco e na primeira mesa, pelo que a vocalista estava, literalmente, a cantar “para mim” – vi-lhe a cor dos olhos e ouvia-a mesmo sem o micro! No final o P. pediu ao trio para tirar uma foto com a R.J. Afinal de contas era o aniversário dela. Eles aceitaram. P P. acabou por comprar ainda um CD deles e pediu-lhes que o autografassem. Excelente noite indeed!

Muitos Parabéns R.J. És a melhor amiga do Mundo!

Aikidô Revisited!

Ontem fui a uma aula de Aikidô, a primeira deste novo ano, o primeiro momento de descontracção desta época de exames que se avizinha. Estávamos quatro: eu, o F., o S. e o P. Soube-me muito bem embora estivesse muito enferrujado, pouca elasticidade e com os meus pezinhos a doerem-me! :) Enfim! Malefícios das festividades natalícias…

O N. entretanto chegou a Lisboa juntamente com o seu mais que tudo R. Pelos vistos o N. (ainda) está com uma gripe descomunal, por isso ‘bora’ FALTAR a uma aula de Aikidô! Imperdoável! LOL

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Back from Holidays!

Olá a todos! Estou de volta. Férias são férias tanto nos estudos como no blog. Sei que até parece que poderia ter mais tempo para me dedicar às escritas ou às leituras, mas não… estas férias foram só para o descanso. Não fiz rigorosamente nada. Rien de rien. Foi dormir e dormir e dormir. Deixar-me levar pela depressão e transformar-me num vegetal insensível, apático e cheio de remorsos por dormir demais e fazer de menos. Tal como diz a minha mãe: “Quem muito dorme, pouco aprende”. Espero ter voltado para Lisboa para me redimir destes lapsos temporais…

Tenho uma terrível falta de motivação para fazer seja o que for, é como se fosse preciso batalhar contra mim mesmo sempre que quero fazer alguma coisa, o que me deixa muito cansado, extenuado de ter que pensar tanto e esforçar-me tanto para fazer as coisas mais simples… porque é que o estudo não me atrai como antigamente? Antes via-o quase como um hobby delicioso, mas agora… parece-me algo impossível de realizar, e o pouco que consigo aprender parece-me incapaz de me satisfazer… estranhos pensamentos e sentimentos somos capazes de ter nós humanos.

Entretanto algo aconteceu nestas férias… reparei que uma pessoa de quem (pensava que) gostava, e que com o tempo estava a gostar cada vez mais, estava a afastar-se misteriosamente de mim, apesar de me ter revelado antes – quando estávamos juntos – sentimentos muito bonitos em relação a mim. Quando o indaguei a esse respeito ele disse-me que afinal de contas aquilo que ele pensava que sentia por mim não era exactamente assim tão intenso, e que sentia por mim uma grande amizade… Bem, fiquei (confesso) um pouco abalado com a rapidez com que as pessoas “deixam de gostar” e quebram “relacionamentos” que estavam a caminhar no “bom” sentido; uma vez mais revivi aqueles instantes finais dos relacionamentos humanos que tive no passado… coincidências ou não, os tempos verbais e os elogios a moi memme são recorrentes. Whatever! Depois de muito pensar, de algum choro (sou choramingas por isso não fiquem com pena…) e de muito “sono reparador”, repensei e reanalisei os meus sentimentos e verifiquei que afinal de contas talvez não tivéssemos pontos de contacto suficientes para uma relação duradoura.

Devido a estes acontecimentos desmarquei a minha passagem de ano e passei-a com a minha família como já havia ocorrido no Natal. Família e mais família, muitos miminhos da mamã e alguns presentes! Não me posso queixar.

Agora vou dormir porque amanhã de manhã bem cedo tenho que ir para a faculdade estudar. A época de exames aproxima-se a todo o gás! :(