terça-feira, janeiro 11, 2005

Wake up Dreaming Boy!

Os dígitos vermelhos do meu rádio-despertador marcam 4:45. Segunda-feira. Há meia hora atrás havia chegado da faculdade onde estive a estudar com a minha amiga R.J. e uns amigos dela. O zumbido contínuo do termoventilador é o único barulho audível a estas horas, o piso da residência está silencioso.

Hoje, apesar da hora tardia, estou desperto. Este fim de semana foi uma nódoa gigantesca no que havia sido uma boa entrada em 2005. Deixei a depressão tomar conta dos meus sentidos, deixei-me, como outrora, ficar aprisionado à cama durante dia e noite, somente levantando-me para jantar.

O episódio com o J. ainda está vivo na minha mente, a dor e a surpresa ainda batem no meu peito. «Não te podes deixar ir abaixo…» ecoa a voz do N. que quer sempre o meu bem.

Este fim-de-semana cometi um erro. Deixei-me levar pela minha imaginação, deixei que ela abarcasse o real e me controlasse as acções, por momentos sujeitas à força poderosa de emoções, sentimentos, desejos e esperanças nunca consentidos pela razão. Sem raciocinar quis à viva força fazer com que um amigo meu saísse comigo na segunda-feira. Bem me avisou o N. para ter cuidado, para não depositar muitas esperanças onde elas não existem, para não vir a sofrer com os desencantos da realidade, com a frustração das minhas expectativas renascidas ao mesmo tempo que este novo ano despertava…

Tinhas razão amigo. Sonhei alto. Demasiado alto. As esperanças recônditas dos meus mais profundos desejos foram colocadas à luz do dia, e com elas o ridículo em que caí… Cada um deve saber aceitar quando deve parar e abandonar um sonho, quando deve transformar uma esperança vincada numa vaga memória de uma ilusão antiga e inocente de quem ainda acredita poder mudar as pessoas, de quem ainda não percebeu que não é especial, mas apenas mais um entre tantos. Ainda me lembro do que sentia quando lia as palavras doces e sempre novas dele, simples e completas, sucintas e profundas; a ilusão criada pela minha inventiva mente de que ele queria dizer-me, a mim, qualquer coisa, sonhava que ele escrevia certas frases para me chamar a atenção, a mim – e a mais ninguém – de que ele estava diferente, que havia mudado o suficiente nestes meses para, desta vez, poderem ser possíveis sentimentos e compromissos que antes eram inviáveis. A perfeita teoria da conspiração. Estarei a dar em maluco? Afinal que tem ele de especial para me colocar nesta subserviência emocional calamitosa, neste estado de quase dependência. Se fosse a raciocinar chegaria claramente à conclusão pragmática de que ele nunca quis realmente nada comigo, que sempre me evitou, sempre pôs bem claro que não depende de mim nem de ninguém, que é forte.

Não me esqueço contudo do que me disse uma noite algures no centro de Lisboa: «Mas afinal o que é que tu queres?». Não me esqueço do seu olhar fatigado e entediado de quem atura uma “lapa” inoportuna. Recordo-me de ter pensado: “não será óbvio?”. Talvez eu queira e esteja disposto a dar algo, para o qual ele não esteja disponível ou preparado para receber e retribuir. Talvez seja tudo um sonho atribulado e eu vá acordar em segurança, na minha cama, enroscado aos lençóis, só deixando o nariz de fora para provar o frio da manhã ainda a despertar à luz dos primeiros raios de sol… mas se foi um sonho, apesar de tudo, foi um sonho bom porque, por momentos, a minha vida voltou a ter uma razão de ser nobre e digna…