domingo, outubro 01, 2006

Árabes em análise

Li em tempo recorde um livro/ensaio interessantíssimo intitulado «Considerações Sobre a Desgraça Árabe», escrito pelo eminente autor árabe Samir Kassir, e publicado pela editora Livros Cotovia. É um livro que foi originalmente escrito em francês e depois traduzido para o árabe (e mais tarde para o português também), mas de leitura um pouco difícil por duas razões principais, a primeira porque o autor tem uma forma de escrita e pontuação já de si complicadas (diria mesmo confusas e desorganizadas), e a segunda porque parte do princípio que (todos) os seus leitores são fluentes em história e cultura árabe, o que não é sempre verdade como acontece com o meu caso, pelo que por vezes há certos termos e considerações que ficam um pouco suspensos no vazio. À parte isso o livro vai aumentando de interesse ao longo dos capítulos e os dois últimos são, no meu entender, os mais interessantes de todos.
«Não é fácil ser árabe nos nossos dias. Seja para onde for que nos voltemos, do Golfo ao Oceano, o quadro parece sombrio, e mais ainda se compararmos com outras regiões do mundo, mesmo as mais desprovidas. Contudo, esta “desgraça” nem sempre foi. Para além da idade de ouro da civilização árabo-muculmana, houve um tempo não muito distante em que os árabes, de novo actores da sua história, podiam projectar-se no futuro com optimismo. Como é que se chegou ao marasmo actual? Como é que se conseguiu fazer crer aos árabes que não têm outro futuro para além do que lhes destina um milenarismo mórbido? Como é que se pôde menosprezar uma cultura viva, para comungar no culto da desgraça e da morte? Sem pretender propor uma receita mágica para sair da desgraça, Samir Kassir mostra que é possível fazê-lo sublinhando que nada, e muito menos a sua herança cultural, deverá impedir os árabes de voltarem a ser sujeitos da sua própria história.»
Samir Kassir foi historiador e jornalista, professor no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Saint-Joseph. Era reputado pelos seus editoriais publicados no grande jornal diário de Beirute, An-Nahar. A sua Histoire de Beyrouth (2003) foi saudada como uma obra de referência. Foi assassinado em 2 de Junho de 2005, em Beirute. Tinha então 45 anos.