quinta-feira, junho 08, 2006

Comentários...

Alguns comentários às pessoas que foram colocando comentários à notícia do Público “Correntes de mails contra últimas propostas do Ministério da Educação para avaliar professores”.

1) Há bons professores e maus professores. Há professores que se dedicam aos alunos e outros que não. O meu pai é professor, e é Presidente do Conselho Executivo de uma escola há muitos anos. Batalhou por um ginásio (que não existia!) e conseguiu-o; criou um grupo de Astronomia com os respectivos acessórios, mas nenhum professor de ciências fisico-químicas, matemática ou outra disciplina se interessou e aquilo está para lá ao abandono; criou um laboratório de revelação de fotografias a preto&branco para que os alunos pudessem revelar as suas próprias fotografias que tiraram com a "máquina da escola" quando iam às visitas de estudo - nenhum professor se interessou; comprou imenso material de laboratório para ciências e fisico-química para que os alunos “vissem a ciência acontecer” - nenhum professor se interessou. Estas e outras iniciativas ao longo do tempo fizeram com que o meu pai começasse a ficar saturado de tanto professor que "não se interessa". Por outro lado a violência, mal-criação, desrespeito, famílias desestruturadas, drogas, álcool, e outras maleitas, fazem dos alunos uns autênticos delinquentes na sala de aula misturados com alunos perfeitamente inseridos na sociedade. A mistura é explosiva.

2) Os alunos avaliarem os professores é perfeitamente normal. Eu estudo no Instituto Superior Técnico, e desde que eu entrei para a faculdade que faço a avaliação dos meus professores. Os professores são avaliados por muitas componentes, e não só por uma. Os alunos são uma componente que lida diariamente com os professores. Os meus pais não, por isso não têm nada que dizer sobre isso. Não conhecem os professores, os currículos, as boas e más práticas, nem têm outras turmas e outros professores para fazerem comparações, ao contrário dos alunos, que o podem fazer com os colegas. Se um professor se esforçar por ser bom professor poderá dormir descansado. Aqueles que não preparam uma aula desde que começaram a docência e cujos acetatos estão já amarelos dos anos que têm em cima, então vão ter que começar a fazer mais qualquer coisa do que o que têm feito.

3) Avaliação por terceiros. Os professores serão avaliados por toda a comunidade escolar. Pelos seus pares, pelos seus superiores hierárquicos, pelos alunos (eventualmente pelos pais - embora não concorde), etc. Em França existe uma equipa do Ministério que vai de escola em escola de forma aleatória para assistir a aulas de vários professores para verificarem a qualidade das suas aulas, da sua preparação, etc. Em Portugal dever-se-ia fazer a mesma coisa. No Ensino Superior vai fazer-se isso (finalmente!) com avaliações dos professores por uma comitiva avaliadora externa à escola para assegurar a imparcialidade. Para quando isso em todo o regime de ensino em Portugal?

4) O Sr. Eduardo Gomes, de Lisboa, oferece uma proposta interessante. Em Inglaterra se uma escola tem níveis de produtividade e resultados abaixo de um determinado patamar então o Ministério envia uma nova equipa de gestão (não interessa agora se são professores ou não) para "tomar conta" da escola por um determinado período de tempo. Desta forma, vícios à muito existentes entre professores, alunos, funcionários, e até pais, são mudados por pessoas fora do meio. As pessoas aceitam melhor as mudanças quando as alterações são efectuadas por pessoas externas, e os resultados aparecem. Sobre a questão do Sr. Eduardo de meter gestores de escolas privadas nas públicas, lamento informar mas os gestores "públicos" não podem fazer o que lhes apetece: têm que seguir toda uma série de regras que são mais volumosas do que uma lista telefónica - o gestor "privado" dava um tiro na cabeça ao fim de um mês! Sobre as Ordens Religiosas, deixe Deus fora disto, e a Igreja acima de tudo - basta olhar para o excelente trabalho que fizeram no Porto nas “Oficinas”, formaram assassinos. A Escola é LAICA. Deus não deveria existir dentro dos portões da Escola.

5) Alguns professores trabalham muito, outros trabalham pouco. Uns utilizam as horas do horário completo para prepararem as aulas, actividades extracurriculares, para darem as aulas, para tirarem dúvidas aos seus alunos, para preparem material de estudo (já agora: nada impede um professor de preparar as suas próprias sebentas!), de participarem nas reuniões da escola, nas reuniões com os pais, etc. Mas há outros que dão as aulas e metem-se no carro para irem directos para casa. Temos que separar bem o “Trigo” do “Joio”. As avaliações servem exactamente para isso: penalizar os que não cumprem os seus deveres, e beneficiar aqueles que os cumprem!

6) Penso que a “Lei” é ainda um “projecto de Lei”, pelo que é possível fazer-se qualquer coisa por ela. Os interessados na Lei, que é quase metade de Portugal (dada a quantidade de pessoas que são professores, para um corpo discente em diminuição inexorável dada a tendência do (de)crescimento populacional), devem ler bem a proposta e elaborar uma proposta alternativa. Há coisas boas e coisas más neste Projecto. Uma coisa boa é a avaliação dos professores. (Assim como foi a avaliação dos funcionários por outra directiva, que já começou no entretanto.) Um coisa má por exemplo é o facto de os professores do 9º e 10º escalão não poderem concorrer a nenhum cargo executivo! Como isso é possível? Como podem desprezar assim pessoas que dedicaram vidas inteiras ao ensino? Como podem tratar assim as pessoas como lixo? Como podem impedir de alguém se candidatar a um cargo? Será isto constitucionalmente legítimo? Poderá alguém dizer a outros: «tu podes-te candidatar, mas tu já não»? Há que limar algumas arestas sem dúvida!