quarta-feira, outubro 11, 2006

Intimidades...

Hoje li um texto especialmente intenso escrito pela minha amiga Sara no seu blog Cacaoccino que convido aliás todos a lerem, em que na caixa de comentários pedia explicitamente que o mesmo não fosse comentado (talvez dada a profundidade da situação). No entanto revi-me nele, por muito diferentes que sejam as situações, pois são-no de facto.

Pode até parecer um exagero egoísta da minha parte mas sinto que algumas pessoas, devido ao seu percurso de vida pessoal e irrepetível, como o é sempre o percurso de cada ser humano, de um dia para o outro, muitas vezes com alguma crueldade do “destino” (se é que isso existe) ou então, se preferirem, das circunstâncias, vêem-se deparados com o seu Ser na sua forma mais profunda! Antítese? Não, a mais dura das provas pessoais talvez, esta situação em que nos deparamos com o que somos, com o nosso Ser. Perante a ameaça da não-existência, perante o vislumbrar da morte, sentimo-nos compelidos a olhar em redor e questionar tudo. Quem sou eu? Porque existo? Em parte, perante a potencialidade da perda de nós próprios, de um familiar próximo ou de um amigo íntimo, as questões filosóficas da vida e da morte parecem bem pertinentes, e não um devaneio teórico rebuscado de um académico com cátedra em Filosofia... Sinto-o na alma (por razões pessoais que não interessa abordar aqui) quando me sinto compelido a ler textos de autores, tão contrários ao mundo interligado por fibra óptica da sociedade da informação do século XXI em que vivemos, como por exemplo de Aristóteles, Platão, Descartes, Espinosa, Erich Fromm, David Hume, John Stuart Mill, Séneca, Jean-Jacques Rousseau, Homero, etc... São autores que entre outras obras notáveis falam de Ética, essa ciência sobre como poderemos viver melhor connosco mesmos! Pois, e não é isso que procura uma pessoa que - de repente - sente a fragilidade da vida humana e ao mesmo tempo a sua extraordinária riqueza? Perante adversidades insuperáveis e talvez mesmo intransponíveis o ser humano recolhe-se nele próprio e procura a origem de tudo aquilo que é, pois que talvez o conhecimento da origem poderá providenciar o conhecimento do objectivo. Não obstante o esforço inglório, tanto a origem como o objectivo (o famigerado porquê?) são inacessíveis na sua plenitude, e apenas partes imperfeitas e incompletas estão disponíveis à razão humana. Perante este desafio de proporções épicas a própria grandiosidade humana (muitas vezes comparada aos seus feitos técnico-científicos...) passa a medir-se relativamente a esta empresa e não mais seremos tão prepotentemente antropocêntricos na nossa autoavaliação. É uma lição de humildade dura e sofrível esta a de nos depararmos com a não-vida. Cada um segue a sua via, o seu caminho. Ninguém ousará dar recados e sermões perante tais situações pois não há doutores especializados nestas questões, somos todos, ao fim e ao cabo, igualmente versados em assuntos da “morte”. Eu, por mim, continuo a ler, e a escrever... Se há consolo que poderemos ter é que perante a nossa perenidade existe algo nosso que podemos transmitir a um “ser” imortal: a “sociedade humana”! Através da palavra escrita, de obras de arte, da nossa influência no molde desta mesma sociedade podemos aspirar à imortalidade, ainda que indirectamente... Afinal podemos viver para sempre através da sociedade, da “nossa” sociedade, que tem algo só nosso!

«Muitas são as coisas espantosas mas nada é mais espantoso que o homem.»
Sófocles, Antígona

1 Comments:

Blogger sara cacao said...

Estarei sempre aqui, P., e mesmo se um dia já não estiver, continuarei a estar...

Adorote, sem hífen como dizia uma amiga para que a palavra faça mais sentido pela sua proximidade.

outubro 12, 2006 10:40 da manhã  

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