quinta-feira, novembro 09, 2006

Rotina

Terça-feira

19h30 - As aulas acabam finalmente depois de mais um dia esgotante na faculdade. Os trabalhos entregues até hoje parecem pequenos comparados com o colosso que tenho que fazer... trabalhos, laboratórios, testes... parece que nunca mais conseguirei sair daqui. Olho em volta. Colegas de faculdade atarefados a arrumar as mochilas, a saírem da sala, para casa ou para a cantina. Os mais sortudos têm programa para esta noite: um cinema, um jantar com amigos de longa data, uma ida à baixa com a cara-metade. Ponho a mochila pesada às costas. Como não é dia de Aikidô não tenho o outro saco ou as armas. Dirijo-me para a saída do pavilhão

19h45 - Vagueio pelos meus pensamentos no caminho para a cantina. Faço contas ao calendário escolar. Penso em tudo o que me falta fazer. «Tantas coisas!» São oito trabalhos, um teste e uma apresentação. Depois, em Janeiro, uma época de exames de cortar a respiração. Desanimo. Olho em volta e tudo está calmo, faculdade já quase deserta, a noite chegou, a lua espreita por entre uma ou outra nuvem, diz-se que o tempo vai melhorar. O meu telemóvel está como sempre, mudo. Nem um telefonema...

19h50 - A cantina apinha-se com os resistentes. Fico algum tempo na fila, pego no tabuleiro, passo por um dos corredores e, depois de entregar a senha, sento-me. Sozinho. Agora que penso nisso não me lembro de ter jantado ou almoçado acompanhado há meses. Interrogo-me do porquê. Não quero ir muito longe nos pensamentos. Primeiro porque estou cansado e depois porque tenho medo do que vou descobrir. Como, bebo... e penso.

20h10 - Saio da cantina de volta à cidade, à rua, aos transportes públicos. Demoro uma hora a chegar a casa. Mais do que tempo para ler. Leio e observo. A virose continua muito activa. Há uma pandemia de casais. De casais estupidamente felizes. Estão em todo o lado. Infectam todos os locais com os seus abraços abusadores e beijos sonoros, risinhos imbecis e cochichos irritantes. Ahhhh... Só espero que não se sente um casal mais virulento perto de mim no Metro ou no comboio. Nem consigo ler como deve ser com o chinfrim de alegria que fazem, como se o dia tivesse alguma coisa de alegre. Olho para o telemóvel, dezenas de números, nem um número que me apeteça ligar. Se há qualquer coisa de bom e positivo com a rotina é que não preciso de ler o horóscopo. Sei exactamente o que vai acontecer amanhã.