domingo, março 06, 2005

Night Fall…

E assim se passou um dia fantástico na minha vida, e como acontece com todos os dias verdadeiramente fantásticos cheguei a casa arrasado, triste e com vontade de chorar para libertar esta tensão interior. Estou a notar uma certa repetição nos meus sentimentos e reacções perante os mesmos estímulos, ou estímulos equivalentes. Sempre que estou com pessoas que prezo muito, sempre que estou com casais estáveis e muito felizes, sempre que me sinto atraído por algum rapaz, sempre que noto que fui rejeitado por uma pessoa para a qual tinha elevadas expectativas, sempre que algumas destas situações acontece fico muito triste, muito em baixo, duvido de mim próprio, duvido de que a felicidade seja possível, fico pessimista, melancólico, pensativo, evasivo, emocionalmente na vertigem da comoção, isolo-me perante o grupo, fujo ao contacto com pessoas que estão “ofensivamente bem”… E no entanto não me arrependo de ter feito o que fiz, de ter conhecido quem conheci, de ter interagido com quem lidei, de ter vivido aquilo que vivi… As reacções humanas são de facto de uma complexidade extrema. Neste momento sinto-me desinteressante, sinto-me demasiado “caseiro”, sinto que não estou socialmente integrado, que não tenho muitas das características e conhecimentos úteis para que reparem em mim… Sinto também vergonha de sentir o que sinto daí não comentar com ninguém que me rodeia (e hoje rodeou) aquilo que vai “aqui por dentro”, sinto ser demasiado “fácil” sentimentalmente, demasiado dependente de outros, de carinho, amizade, afectividade, romantismo, companheirismo… amor. É ridículo muitas vezes dar-me conta da “adolescência sentimental” e a arrepiante falta de “inteligência emocional” que tenho, em como desisto de lutar à menor dificuldade, como invento incontrolavelmente cenários mentais pessimistas e que me são adversos baseados em comportamentos absolutamente comuns e normais de uma pessoa especial e aos quais irresistivelmente conoto the worst possible scenario

Hoje o dia foi complicado sentimentalmente. Voltei a estar presente numa actividade da rede ex aequo, voltei a ver caras conhecidas e a conhecer novas caras, voltei a lembrar-me do porquê de eu me ter afastado da rede ex aequo, mas atenção, não me interpretem mal, adoro a rede ex aequo, adoro o Projecto Educação, adoro todas as actividades da rede ex aequo, adoro os seus membros e os seus dirigentes, mas as situações pelas quais a rede ex aequo inevitavelmente me faz passar fazem-me voltar a um dos pilares basilares da minha depressão, e isso, como é óbvio vai-me trazer sentimentos contraditórios de esperança vs. desistência, integração vs. isolamento, alegria vs. tristeza, felicidade vs. infelicidade, realização vs. fracasso, apreciação vs. desprezo… são tantos… e muito do que sinto não lhe encontro descrição semântica adequada. Mas porque é que sou tão influenciável por eventos ou pessoas do quotidiano? Às vezes adorava ter um botão onde pudesse desligar os sentimentos, certamente seria mais fácil viver, seria menos doloroso, seria menos decepcionante…

Amanhã espera-me outro dia espectacular, resiste dentro de mim uma esperança de que as coisas “aqui dentro” se componham, de que possa chegar a casa desta vez alegre! Mas não acredito que esta esperança venha a concretizar-se, é muito mais provável que venha novamente em baixo para casa. Preciso de contar o que se passa “aqui dentro” à minha psicóloga, preciso de lhe contar estas aberrações sentimentais que nada têm de lógico.

Sinto que é hora de dormir, doem-me os olhos, a minha cabeça vacila e descai avisando a mente racional que o corpo precisa de um descanso, até porque o sono e em especial os sonhos se encarregarão de me (re)equilibrar para amanhã de manhã… logo veremos como me sentirei de manhã.