quinta-feira, fevereiro 17, 2005

CUP&CINO till 2h00 am

Apetece-me chorar. Parece impossível, diametralmente o oposto ao que acabei de viver, em desacordo com a noite magnífica que aparentemente tive. Que se passa (ou passou) para estar assim? Será que é porque não tomei a medicação quando devia? A primeira coisa que fiz mal cheguei a casa foi tomar o antidepressivo. No fundo sei exactamente o que se passou…

Antes da aulinha de Aikido, ainda nos vestiários, o S. perguntou ao N., que estava ao meu lado, se estaria disposto a ir ao cinema com ele amanhã. Depois de se “aperceber” que eu estava lá, que era impossível não ter ouvido, corrigiu imediatamente para um providencial “convidar-vos”. Bom grado a correcção, chegou no entanto demasiado tarde para evitar que ficasse profundamente triste – pensamento imediato: “Ter-se-á esquecido que existo? Será mais íntimo do N. do que de mim? Acha a companhia do N. mais agradável do que a minha? Terá feito de propósito para eu perceber que sou uma companhia secundária? Será que tentou mostrar compaixão à última da hora?” – pensamento imediatamente a seguir: “É a minha imaginação… esquece… Ele no fundo estava só meio atrapalhado e não me está a preterir em relação ao N. Foi só uma infeliz conjugação verbal.”. O que é um facto indesmentível foi que me perturbou e afectou para o resto do dia. Ultimamente tenho achado a conduta do S. e do J. um pouco (para ser brando) estranha, pelo que restrinjo o contacto com eles ao máximo para evitar males maiores para a mim mesmo – já basta a debilitação da depressão para lhe ter que juntar uns pozinhos de “acontecimentos de vida” perturbadores em promoção especial ou mesmo grátis…

A noite começou semi bem. Confirmei a minha impressão de que o A. não me compreende muito bem. É triste porque quero mesmo ser amigo dele, gostaria de sentir que ele também quereria ser meu amigo, e que estaria disposto a partilhar a sua amizade comigo. Apesar de lhe ter telefonado a perguntar se estava em Lisboa (porque cheguei ontem) ele simplesmente não se “lembrou” que eu estava em Lisboa quando, de surpresa, chegou hoje à capital ao final da tarde. Tudo bem – acontecimento esquecido. Tentei explicar porque é que ele pode “confiar” em mim, porque é que as minhas reacções anteriores foram “aparentemente” desconcertantes, excessivas ou desajustadas, tentei explicar que todas elas fazem parte de uma pessoa que está a atravessar uma fase depressiva grave: penso que a mensagem não chegou ao destino; ouviu mas não escutou, absorveu a informação mas não a compreendeu – é natural, todos os manuais que tratam do tema da depressão dizem que é extremamente difícil explicar a uma pessoa que não tenha sofrido de depressão o que é uma depressão e o que isso acarreta para o depressivo e para os que com ele contactam mais de perto. O A. conheceu-me no Alkimia, talvez em Outubro ou Novembro, na minha pior fase depressiva de sempre. Nesse dia (lembro-me perfeitamente do dia, da mesa, onde estava sentado, onde é que ele estava sentado, como me sentia e como o desprezei completamente) achei-o verdadeiramente irritante, incómodo e inconveniente com toda a sua aura de felicidade descartável, riso contagiante (menos para mim – um depressivo quando começa a rir é porque está na fase de recuperação ou controlado pela medicação e psicoterapia), teimosia em querer saber tudo sobre toda a gente e não dizer nada sobre ele próprio, descaramento de querer forçosamente conhecer pessoas desconhecidas através de um processo pouco discreto de lhes perguntar na cara quem são!

O que aconteceu hoje foi que o A. convidou () o N. para ir jantar com ele. Adiante, de facto passei por cima disto, e lá fui até ao CUP&CINO encontrar-me com o N. e com o A. que foram lá jantar. A conversa estendeu-se pela noite dentro sobre – claro está – sexo e gayjos! Fartei-me de rir e de micar gajos giros que por lá passavam… sempre com o apoio incondicional do N. e do A. com os quais (obviamente) dava os meus bitaites em relação aos nacos que passavam. Coisas de gays… esqueçam se não percebem! :P

A certa altura recebi duas mensagens extremamente inconvenientes dos meus colegas da associação a “exigirem-me” que faça uma série de coisas para ontem. Já chega o stress que me tem ocupado a mente e o espírito durante toda a época de exame e o sentimento de culpa por não ter feito quase nada. Já chega o sentimento de baixa auto-confiança que tenho. Já chega o medo aterrorizante de começar a fazer seja o que for, de tomar decisões importantes, de cumprir obrigações impostas pelo exterior ou por mim próprio. Quanto mais me pressionam mais dificuldade tenho em reagir e em executar aquilo que pretendem. Se pelo contrário me ajudarem a começar sou muito mais eficaz e consigo fazer as coisas como devem ser feitas e muitas vezes superar as expectativas. Mas nem todos sabem gestão, nem todos sabem que «o sucesso é aquilo que se faz com as pessoas, e não aquilo que se faz às pessoas». Enfim, amanhã lá terei que tratar destas tretas chatérrimas… seca descomunal…

No final da noite, quando já nos tínhamos levantado para pagarmos, o A. descobre no seu bolso do casaco um papel de um “apaixonado” que lhe dizia mais ou menos isto (não fiquei com o papel e não me lembro exactamente o que estava escrito):

«O teu olhar tocou-me.

Chamo-me P., o rapaz de camisola castanha.

Telefona-me: 9XXXXXXXX»


Lição a tirar: temos que ir mais vezes ao CUP&CINO!!! LOL Pode ser que eles apareçam mais vezes. ;) E pode ser que da próxima vez descubramos quem é o raio do rapaz de “camisola castanha” – sinceramente não faço a mínima ideia de quem seja, embora gostasse que fosse o que tinha a camisola 22 (porque fartei-me de trocar olhares com esse rapaz giríssimo, embora não tenha camisola castanha...). “Pois, pois… vai sonhando vai, porque a mensagem nem sequer era para ti” – diz o diabinho sentado no meu ombro esquerdo. Enfim, tenho que fazer pela vida e, à falta de melhor, mais vale sonhar do que viver sem sonhos nem ilusões reconfortantes e gratificantes, para o ego e auto-estima, como ser alvo de um bilhete de um rapaz todo giro e bom que gostou dos meus olhares (in)discretos… :D

Apanhei o taxi para casa. Estava muito mal disposto. Apetecia-me desatar a chorar. Ao mesmo tempo planeava o meu dia de amanhã para fazer tudo o que tenho que fazer e sair no final do dia mais equilibrado. Um coisa é verdade e que por coincidência li hoje no livro “A Psicologia da Depressão” que ando a ler: muitas vezes pormenores insignificantes ou que nos passam despercebidos são factores precipitantes de um humor depressivo passageiro, muitas vezes nem sequer temos consciência de qual foi realmente o elemento ou situação em causa que originou a reacção depressiva, por vezes passa-se ao nível do inconsciente, outras vezes é marcadamente evidente e claro, noutras os factores possíveis são em tal número que é impossível destrinçar entre os que podem ter tido influência no estado de humor depressivo dos que não, para já não falarmos da escala de importância ou relevância de entre os que podem. A mente humana é extremamente complexa e nada é simples quando lidamos com as partidas que ela nos prega. Hoje, uma noite divertida, farto de rir e apreciar rapazes jeitosos (e outros menos), conversando com os meus dois amigos N. e A. e no final da noite sentir-me tão inútil, desinteressante e medíocre. Ora vejam lá ao que se chega. Confesso que às vezes me surpreendo a mim próprio. “E esta hem?