domingo, abril 23, 2006

“Crise do Irão” vs. “Crise dos Combustíveis Fósseis”

Como já devem ter reparado o preço dos combustíveis fósseis está actualmente na casa dos 75$ quer em Nova Iorque quer em Londres. Estes preços são historicamente altos mesmo em relação à crise petrolífera dos anos 70. O problema actualmente é que não existe nenhum corte deliberado da OPEP em relação aos EUA ou ao Ocidente como um todo (como foi o caso nas duas crises dos anos 70). Aliás, hoje, todo o mundo do petróleo luta para se manter na produção máxima. Não existem mais torneiras por abrir, todos os que produzem petróleo estão a fazê-lo no seu máximo, e, mesmo assim, no cômputo geral, a produção é menor do que há alguns anos atrás. Tirando o Iraque que está infelizmente mergulhado na desordem civil instigada pelo Irão, e pelas suas próprias divisões internas (Sunitas vs. Xiitas vs. Curdos), os restantes membros da OPEP e mesmo os que não fazem parte do Cartel, estão desesperadamente a produzir o máximo. Porquê “desesperadamente”, se uma constrição de volume faz aumentar dos preços? Porque os Árabes e os restantes países já se deram conta que, para eles, é melhor que o Ocidente industrializado esteja “bem de saúde” (economicamente falando), do que em depressão económica, dado que isso pode desembocar numa crise de destruição de capacidade de produção industrial e de consumo por parte das massas Ocidentais e, por conseguinte, reduzirmos o nosso consumo de petróleo, gerando menos receitas para o Cartel do que mais receitas. Então, será mesmo o Irão o responsável pelo problema? O Irão, na minha opinião, está só a exacerbar mais o verdadeiro problema que se avizinha. O problema que se avizinha é que a produção mundial de petróleo atingiu o “Pico de Hebbert” de produção máxima perto do ano 2000. Ou seja, a partir desta data, por mais que os países de todo o mundo tentem, não haverá cada vez mais petróleo para equiparar o consumo desenfreado, mas sim a depleção de cada vez mais poços de petróleo. Estamos inexoravelmente a caminhar para uma sociedade que vai deixar de ter petróleo barato, e passará, no curto prazo, a ter petróleo caríssimo. As primeiras movimentações das potências mundiais para se apossarem dos recursos energéticos remanescentes já começou: a invasão do Iraque pelos EUA, o cerco do Irão (o quarto maior produtor de petróleo do mundo) através da presença de bases militares americanas em todos os países vizinhos do Irão, além dos vizinhos do Iraque; os acordos da República Popular da China com todos os países que encontra com recursos energéticos razoáveis (independentemente de serem ditaduras, monarquias, democracias; independentemente de respeitarem ou não os Direitos Humanos, as resoluções da ONU, ou o Direito Internacional...), como no caso de Angola. Penso que o que se passa é que a nossa civilização está prestes a enfrentar uma mudança de paradigma. O fim dos combustíveis fósseis, o fim da energia ao desbarato, vai acabar por ser o fim da civilização globalizada e esbanjadora que conhecemos. É provável que não consigamos facilmente escapar as provações que se nos deparam no horizonte. Be warned!