quarta-feira, março 30, 2005

O que é prometido é devido


Prometi ao M. que fazia um resumo das minhas férias aqui no Blogue. Ok. Aqui está o tal resumo que lhe tinha prometido.

As minhas férias começaram na quarta-feira passada e terminaram nesta terça-feira, dia em que regressei a Lisboa. Parti com o coração divido, embrenhado em dúvidas e mais dúvidas, com a cabeça à roda de tanto correr em direcção a saídas e explicações em todas as direcções que infelizmente davam sempre ao mesmo sítio: sofrimento. Tinha decidido fazer das minhas férias uma altura de descanso mental, psicológico e físico. Assim foi… mais ou menos. A minha esperança desmedida e totalmente irracional, de que, sentimentos ilusórios que atravessam invariavelmente a minha mente quando me apaixono, fossem retribuídos, era tal, que, passava dia e noite a pensar em mirabolantes planos para um futuro a dois, sobre o que iríamos fazer quando estivéssemos a trabalhar, que projectos queria ajuda-lo a concretizar e em que projectos ele poderia ser o meu braço direito… sonhos feitos e refeitos constantemente afastaram-me da realidade durante vários dias. Acordava tarde para almoçar. De tarde dormia mais um pouco. Jantava tarde porque os meus pais também são pessoas muito ocupadas e quanto a férias só os três filhos universitários é que têm direito a esses “luxos”, os gestores e administradores não! Passei algumas tardes a ver um ou outro filme. Ao fim desta semaninha foram três no total: a revisão [pela milionésima vez] dos Episódios I e II do «Star Wars» – preciso de saber a história de “cor” porque o Episódio III está mesmo, mesmo a sair! – e vi pela primeira vez o «I, Robot», adorei como sempre nestes filmes, não a histórinha – que é quase sempre igual – mas as “maravilhas” tecnológicas que são “pré visionadas” por este género de filmes de ficção científica: em especial estou a falar do Audi espectacular que o actor principal guiava – também quero um daqueles!!! De noite via um pouco de televisão, lia o Público ou a Visão. Ficava acordado até tarde (como agora mesmo) porque por mais que me revirasse na cama o sono não pegava… A certa altura nestas férias apercebi-me que o M. queria ser, como lhe é totalmente legítimo e natural, unicamente meu [bom] amigo. Eu é que sou um coração mole, um “Mário vai com todos!” [versão gay do ditado popular…], mas nem isso é verdade. Não me apaixonei por ninguém no último ano. Fez neste fim-de-semana passado um ano que o J. me deixou. Na altura fiquei muito magoado e levou-me muito tempo a perceber e entender o que realmente me fazia falta e o que realmente sentia; percebi que afinal não o amava, percebi que o que mais sentia falta na nossa relação era sem dúvida da atenção, da partilha de um quarto/apartamento, das conversas “em família” com a irmã dele (médica), o namorado da irmã dele – que tem o mesmo nome que eu e andava em Eng. Civil – daí nós dizermos em tom de brincadeira que naquela família toda a gente gostava de Pedros! – de ter conhecido a mãe dele, das conversas, dos cafés, dos lanches, e dos almoços e jantares que tivemos todos juntos: eu, o J., a irmã e o namorado, e a mãe! Lamechas? Não, um apoio muito grande diria eu. Senti-me parte de um todo que se amava, que se protegia, que se apoiava e acarinhava. Sentia-me mais confiante, mais contente, mais dinâmico; trabalhava mais, era melhor sucedido, ultrapassava as dificuldades. Sentia falta disso tudo… mas não dele em particular. No caso do M. é diferente. Desde a primeira vez que o vi que ele me chamou a atenção. Passou-se um mês. Voltei a vê-lo. Uma vez mais aquela sensação estranha. Passaram-se semanas, conhecia-o cada vez mais e melhor. Em todas as situações ele continuava a renovar o seu encanto a meus olhos. Mas depois chegou a altura de toda a verdade, a constatação de um facto indesmentível: ele nunca havia reparado em mim – a não ser como toda a gente “repara” nas pessoas por que passa na rua – não era mais do que “um” entre tantos, o cerne dele, o coração e alma estavam já entregues a outros destinos, a outras paragens, a um outro rapaz. Diz-se que a esperança é a última coisa a morrer. Confirmo, pela parte que me toca pelo menos. Mesmo depois de todos os indícios apontarem para a mesma conclusão inevitável, mesmo sem um vestígio ténue de sinais que me pudessem fazer duvidar, continuei a acreditar no que me parecia possível. Pensava que talvez este rapaz pudesse gostar de mim. «Parvo?» – Exacto. – «Como é que adivinharam?» – Óbvio! De facto, depois de pensar melhor sobre o assunto comecei a tentar pôr-me na pele dele: O que é que ele veria de interessante em mim? Será que ele iria perceber o que é uma depressão e o quão incapacitante pode tornar-se em certas situações? Será que ele iria perceber porque é que nunca mais me livro deste curso? Será que iria gostar de andar com uma pessoa que não sabe de arte, de cinema, de literatura, de teatro, de estética, de moda e outras áreas tão pouco científicas? – Penso que ele gostará de uma pessoa diferente de mim. Talvez mais semelhante a ele próprio. Eu por outro lado gosto de pessoas dissemelhantes de mim, antagónicas em alguns casos, que me rematem certas pontas soltas que são fraquezas em mim mesmo. O que é que eu quero? Simples. Quero amar e ser amado por um rapaz especial. Mas está a tornar-se complicado. O que mais me amargura é que tive aquela sensação de “agora é que vai ser, finalmente alguém com a cabeça no lugar e que valha a pena” e de repente… “puffff…” fez-se o Chocapic! LOL Após este tempo todo de cura de sono, e de pensar, pensar, pensar, tive momentos de desespero, de iniciativa, de tentativa de reacção, alturas em que me fui abaixo, que desanimei, que fiquei triste e desmotivado. Ontem acabei por ter uma conversa com a minha mãe muito importante. Ela sabe –sente? – que algo não está bem comigo. Acha-me desanimado demais. Tem toda a razão. E está tão longe de mim, estou tão longe do seu carinho, das suas festinhas, dos seus conselhos… Acabei por contar-lhe porque é que não fui ao Aikidô todo o mês de Março e a história do M. Não conti as lágrimas. Mais tarde, quando voltamos a estar sós falou comigo. Fez o melhor que sabia – sei que a homossexualidade a deixa perturbada, sei que muitas vezes tem medo de me magoar, ofender, outras vezes não sabe mesmo o que dizer porque nunca teve mais experiência do que a sua vida heterossexual pacata e alheada destas realidades “que só acontecem aos outros” – disse-me muita coisa, de uma posição racionalista avaliou a situação, deu-me força, ânimo, vontade de vencer. Percebia-a. Quero ser forte como ela. Mas ao mesmo tempo quero ser amado, abraçado e acarinhado; não quero percorrer o “deserto de dificuldades” da vida sem ninguém ao meu lado. Cresci a ver os meus colegas a terem namoradas desde tenra idade, aliás, desde que me lembro. No primeiro e segundo ciclos eram apenas “brincadeiras”, abraços, mãos dadas, correrias em conjunto, telefonemas e “cartas de amor”, recados e bilhetinhos passados sorrateiramente pelas carteiras da sala de aula, graffitis nas paredes da escola, um presente no dia de anos. No terceiro ciclo a evolução era notória, beijinhos, amaços, linguados, prazeres mais carnais, viam sessões de cinema em conjunto – encobertos pela escuridão da sala e a hora de menos afluência às telas, planeavam fins-de-semana em conjunto, passeios com os carros, a primeira experiência sexual ou pelo menos uns trabalhos de língua em conjunto… Na faculdade o estatuto oficial de “adulto” dava azo a mais qualquer coisa, eram as noites quentes, húmidas, intensas, no apartamento lá de Lisboa, sem vigias dos pais, com a conivência despreocupada dos colegas de apartamento, as primeiras histórias de grandes sessões de verdadeiro hardcore sexual de que se gabavam os rapazes, das vezes que atingiam o orgasmo e os pormenores íntimos do romance nocturno de que se gabavam as raparigas… Eu nunca tive nada disso, nenhuma experiência mais ou menos precoce que me preparasse para a descoberta do mundo dos sentimentos aos 21 anos, como uma bomba atómica emocional que explode no seio da nossa alma e que nos muda para sempre. Vivi, de facto, a minha adolescência compactada e concatenada em apenas três anos. Tenho agora 24 anos. Tive as minhas primeiras experiências sexuais aos 22 anos. E desde esse ano que nada mais aconteceu, nem sexualmente nem, principalmente, sentimentalmente. Sexo?! Isso é daquelas coisas que vem por acrescento. O que preciso e sinto falta é mesmo do companheirismo e partilha que dois namorados têm. Todos estes pensamentos foram tudo o que fiz nestas férias da Páscoa. Cheguei a Lisboa hoje à noite. Estou a arrumar o meu quarto. Separar os livros e apontamentos de que preciso este semestre daqueles que só precisarei mais tarde. Arquivar papelada antiga. Livrar a minha cama de uma praga de livros empilhados. É tardíssmo. Não dormi ainda. Nem vou dormir. Preciso de acabar de pensar. Fazer certas coisas para começar o semestre… gostava que fosse mais forte, como a minha mãe, mais forte.